As ações da Petrobras abriram em queda acentuada nesta sexta-feira (12), reflexo da decisão da companhia de suspender o reajuste no preço do diesel horas depois de anunciá-lo, na quinta-feira (11). No começo da tarde, as ações da companhia cediam perto de 7% e derrubavam o Ibovespa em 1,6%, abaixo do patamar de 94 mil pontos.
O mercado financeiro entendeu o recuo como uma interferência do governo de Jair Bolsonaro (PSL) na estatal, algo que foi duramente criticado durante a gestão de Dilma Rousseff (PT). Nesta manhã, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que a decisão de suspender o reajuste partiu de Bolsonaro
Na quinta, a Petrobras havia anunciado o reajuste do preço do diesel em 5,7%, que seria aplicado a partir desta sexta. Horas depois, porém, a companhia recuou, afirmando que "em consonância com sua estratégia para os reajustes dos preços do diesel divulgada em 25 de março, revisitou sua posição de hedge (proteção) e avaliou ao longo do dia, com o fechamento do mercado, que há margem para espaçar mais alguns dias o reajuste no diesel".
O BTG Pactual chamou o recuou de "déjà vu", em referências às interferências do governo Dilma Rousseff (PT) na estatal, algo duramente criticado pelo mercado. O congelamento do preço levou a uma deterioração das contas da companhia. O BTG citou a medida como uma forma de conter uma eventual nova greve dos caminhoneiros.
"Então ficamos com um dilema. Enquanto as consequências de uma nova greve provavelmente seriam muito negativas para a agenda de crescimento do país (incluindo reformas) e inclusive para a Petrobras, a percepção de que a companhia está exposta a influências políticas, mesmo sob uma agenda liberal, coloca em risco o seu pilar central de processo de redução de riscos", disse o BTG. Para o banco, a defasagem do preço do diesel em comparação com o Exterior é de 5,8%.
Em nota, a corretora Guide escreveu que "o governo está fazendo exatamente aquilo que ele mais crítica. Além de ir completamente ao contrário do que pensa o ministro da Economia Paulo Guedes", ressaltando a interferência do governo na empresa.
A corretora considerou a decisão errada e baseada apenas no medo de uma nova paralisação dos caminhoneiros em um momento em que o governo está fragilizado. "Bolsonaro pode até acertar no curto prazo, ao evitar uma nova greve dos caminhoneiros, dado a sua popularidade baixa e um complexo cenário na negociação da Previdência. Porém, precisa sinalizar, rapidamente, que não irá sentar em cima dos preços da Petrobras", dizem os analistas da Guide, que estimam em 8% a defasagem de preços em relação ao Exterior.
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A corretora Rico acrescentou que a notícia da suspensão do reajuste "remete ao mercado os tempos de intervencionismo ativo que a estatal sofreu no governo Dilma".
A Coinvalores escreveu também em seu relatório matinal que existem relatos de que "a mudança se deve a um pedido direto de Jair Bolsonaro, suscitando dúvidas quanto à autonomia da petrolífera".
A política de reajuste no preço dos combustíveis da Petrobras foi adotada durante a gestão de Pedro Parente, que assumiu a companhia no governo Michel Temer. Levava em consideração as cotações internacionais do petróleo e o dólar.
O sistema entrou em xeque, porém, quando os preços do combustível dispararam e caminhoneiros organizaram paralisação que se estendeu por mais de uma semana, em maio do ano passado.
Em junho, Parente deixou a companhia e foi sucedido por Ivan Monteiro. Atualmente a estatal é comandada por Roberto Castello Branco, escolhido por Bolsonaro. Em março, apenas três meses após a posse, a companhia anunciou que mudaria a política de reajustes e que eles ocorreriam em intervalos de pelo menos 15 dias.
Quando adotada, a política de preços admitia reajustes diários para cima ou para baixo.