No mercado financeiro, o comportamento errático e as declarações desastradas de Jair Bolsonaro sobre a reforma da Previdência, já fizeram surgir o apelido "Dilma de calças". Nesta sexta-feira, depois da confirmação do vice-presidente Hamilton Mourão, que veio do chefe do Executivo a decisão de frear o reajuste de 5,7% nos preços do óleo diesel anunciado pela Petrobras nas refinarias, a alcunha voltou à cena. Na primeira oportunidade crucial entre o passado intervencionista e a recente conversão ao liberalismo econômico, os antecedentes pesaram mais.
O resultado é uma queda acima de 7% no preço das ações da Petrobras. O mercado financeiro entendeu que se trata de uma reprise da política de fixação de preços que predominou ao longo do governo de Dilma Rousseff. Mourão se apressou a negar, afirmando que a intervenção foi "pontual", diante do risco de atiçar uma greve nos caminhoneiros que já começava a ser cogitada. Talvez tenha sido uma manobra prudente de Bolsonaro, diante dos estragos que a paralisação do ano passado fez na economia.
No entanto, além de provocar o desabamento das ações da Petrobras, a decisão provoca ruídos na recente aliança entre o presidente e o núcleo liberal do governo, o que vem lhe garantindo apoio tanto no mercado financeiro (apesar do desgaste recente) quanto entre os empresários. O empresário Winston Ling, que aproximou Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, já se manifestou nas redes sociais sobre o movimento, considerando-o "desastroso" (veja abaixo).
Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, é um dos liberais com formação
(fez um pós-doutorado) na Universidade de Chicago, onde intervenções como a de hoje
são consideradas um tabu. Há um certo suspense sobre como vai se comportar diante do episódio. É bom lembrar que as decisões de congelar o preço do diesel e tabelar o frete, depois da greve de maio de 2018, provocaram a saída do então presidente da Petrobras, Pedro Parente. Neste momento, a estatal está com o conselho e a diretoria reunidos.
No início do pregão, a queda da bolsa era leve, mas se acentuou depois que o mercado soube de duas frases de Bolsonaro sobre o assunto: "Na terça, convoquei todos da Petrobras para me esclarecer porque 5,7% de reajuste" e "Liguei para o presidente (da Petrobras), sim, me surpreendi com reajuste de 5,7%".