Faltam ainda 17 para o governo Bolsonaro completar os primeiros 100 dias, que costumam marcar a primeira etapa de avaliação consistente da gestão. Prestes a ser encerrado o período que deveria ter sido usado para preservar – e, se possível, aumentar –, o capital político do presidente sofre forte erosão.
Na semana passada, dois sinais amarelos partiram da torcida a favor da reforma da Previdência: a exasperação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com
a falta de comprometimento do governo com a proposta
e o alarme do mercado financeiro. Ambos estão na mesma trincheira de Bolsonaro. Atacado por tuítes do filho do presidente, Carlos Bolsonaro, Maia foi à forra na sexta-feira:
– Ele (o presidente) precisa ter engajamento maior.
Ele precisa ter mais tempo pra cuidar da Previdência e menos tempo cuidando do Twitter, porque, senão, a reforma não vai andar.
No sábado, ganhou reforço de Flávio Rocha, dono da Riachuelo, que disputou com Bolsonaro a mesma fatia do eleitorado na campanha à Presidência. Disse que, para aprovar a reforma,
o governo "precisa desligar o Twitter".
No mercado financeiro, os alertas vieram de duas fontes: uma mensurável – a bolsa abriu
a semana a 100 mil pontos e fechou a 93,7 mil, sinal inequívoco de decepção – e outra qualitativa. À coluna, o economista-chefe da SulAmerica Investimentos, Newton Rosa, afirmou:
– Pela primeira vez, ganha força um cenário em que a reforma emperre.
Foi apenas uma de várias manifestações no mesmo sentido. Analistas mais jocosos chegaram a chamar o presidente de "Dilma de calças", pela capacidade de causar
confusão. Bolsonaro deu um jeito de incluir o tema ao falar sábado no Chile:
– Temos preocupações, sim, com as discussões (...) da reforma da Previdência e queremos aprová-la.
Ontem, recebeu o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). O parlamentar reconheceu a "semana tensa" e sugeriu que "o clima vai arrefecer". Se não quiser que o cheiro de vinagre comece a emanar da proposta de reforma da Previdência, o governo tem de reagir com rapidez. As chances de aprovar mudanças racionais na Previdência nunca foram tão grandes. Mas é preciso afastar ruídos desnecessários, de tuítes a atos e declarações da ala fundamentalista do ministério.
Para evitar o desastre
"Quem sabe o susto imenso da última semana não ajude a evitar o desastre
(grifo da coluna)?" é a frase que abre artigo publicado no domingo pelo economista
Marcos Lisboa, presidente do Insper. Grande defensor da reforma, Lisboa encerra afirmando que "Há uma janela de oportunidade, mas ela pode se fechar".