O Banco Central da Argentina aumentou em 10 pontos percentuais a taxa de juros do país, para 74%, em uma tentativa de conter a alta do dólar, que disparou 30% na manhã desta segunda-feira (12). A alta veio na esteira da vitória da oposição nas eleições primárias do último domingo (11), que surpreenderam o mercado financeiro por tornar difícil a reeleição de Mauricio Macri em outubro.
A chapa liderada por Alberto Fernández — que tem a ex-mandatária Cristina Kirchner como vice — venceu com larga vantagem a chapa do atual presidente e indica que pode haver mudança na política econômica do país.
Por volta das 12h, a moeda norte-americana era vendida por 61 pesos, quando na sexta-feira (9), o teto tinha sido de 46,55 pesos. Já a bolsa argentina despencava cerca de 28%.
Com 58% das urnas apuradas, a dupla kirchnerista tinha 47% dos votos contra 32,6% da chapa de Macri. A tendência, segundo o órgão eleitoral, é que a diferença continue assim até o final da apuração.
O mercado financeiro já esperava uma derrota de Macri, mas com uma diferença de apenas 9 pontos percentuais entre as chapas. A distância de cerca de 15 pontos percentuais nas primárias pode levar a eleição em primeiro turno de Fernández. Investidores esperavam dois turnos, com uma reeleição de Macri.
O dólar estava sendo mantido sem aumentos significativos nos últimos dois meses, por razões eleitorais. O governo vinha injetando fundos provenientes do empréstimo realizado ante o Fundo Monetário Internacional (FMI) para que a moeda não disparasse e isso ajudasse a reeleição de Macri.
O mandatário se reuniu na Casa Rosada com o presidente do Banco Central, Guido Sandleris, o ministro da Economia, Nicolás Dujovne, e o chefe de gabinete, Marcos Peña.
O opositor Fernández, em entrevista a uma rádio local, criticou Macri por, agora, não estar tomando medidas para conter o desabamento da economia — apenas, disse, "para dar a sensação de que, sem ele, a Argentina não pode ser governada".
— Deveria pensar mais no país do que em sua candidatura. Agora se vê num cenário ao qual não sabe como dar resposta — afirmou Fernández.
No Brasil, importante parceiro econômico da Argentina, o mercado também opera em viés negativo com a vitória kirchnerista. O Ibovespa recua 2%, a 101.905 pontos. O dólar sobe 1,57%, a R$ 4, maior patamar desde maio.