E abril de 2003, produzi para Zero Hora uma série de reportagens chamada “Uma Nova Chance para a Argentina”. Era como se a eleição no país vizinho fosse uma refundação da nação, depois da crise política e econômica que levou nossos vizinhos a ter cinco presidentes em um mês.
No pleito, os argentinos não perdoaram um de seus algozes, Carlos Menem, o presidente da paridade cambial do dólar e do peso, aquele que popularizou, por aqui, no Brasil, a famosa expressão de nossos hermanos nas praias: “Dá-me dos” – em alusão à valorização de sua moeda em relação a nossa.
Os argentinos elegeram naquela época um outsider, como se diria hoje em dia. Néstor Kirchner, saído de gélida Santa Cruz, chegou à Casa Rosada como terceira via: vestia uma carapuça de diferentão, mas integrava as hostes do Partido Justicialista, o famoso peronismo fragmentado em diferentes facções.
O mundo gira, e parece que o pêndulo da história é mais acelerado na América Latina. Tudo volta ao mesmo lugar.
O governo de Mauricio Macri nos dá um revival dos anos 1990. Imprime um pacote com 11 medidas para estancar a alta da inflação e tirar o país da recessão. Recorre a uma prática que já se mostrou desastrosa: o congelamento de preços.
O peso perdeu metade de seu valor em 365 dias. Macri foi ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e elevou o juro para a maior taxa do mundo. Não obteve sucesso. Sua popularidade despencou.
A pobreza aumenta, e os preços, também.
Mau sinal para seus planos de reeleição. A disputa no país vizinho ocorrerá em outubro. E pesquisas mostram Cristina Kirchner, ressuscitada das catacumbas da política, ocupa o primeiro lugar: 35,9% da ex-presidente contra 28,8% de Macri, no levantamento da Synopsis Consultores.
No segundo turno, há empate técnico: 45% para Cristina contra 44,3% para Macri. O atual presidente também empata com o peronista de centro-direita Sergio Massa, em caso de segundo turno, e perde na simulação de disputa com o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna.
Os argentinos não costumam perdoar erros de seus presidentes, condenando-os ao ostracismo político – mau sinal para Macri – mas, ao mesmo tempo, costumam ter memória curta e repetir os erros. Que o diga Cristina, acusada de corrupção e favorita para voltar à Casa Rosada.