Em discurso inflamado na cerimônia de inauguração dos 47 quilômetros duplicados da BR-116, em Pelotas, nesta segunda-feira (12), o presidente Jair Bolsonaro criticou a vitória do peronismo kirchnerista nas prévias de domingo (11) na Argentina. Defensor do atual presidente Mauricio Macri, Bolsonaro afirmou que a "esquerdalha deu sinal de vida" e deu recado aos apoiadores gaúchos, sob gritos de "mito":
— Se a esquerdalha voltar na Argentina, poderemos ter no RS um novo Estado de Roraima, com argentinos fugindo para cá.
Desde 2015, o município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela — a cerca de 200 quilômetros de distância da capital de Roraima — tem recebido grande fluxo de migrantes, em meio ao surgimento de conflitos sociais no país vizinho.
Depois da solenidade, Bolsonaro cumprimentou apoiadores junto ao brete. Debaixo de chuva, respondeu a algumas perguntas da imprensa. Sobre a relação com Argentina caso vença o peronismo kirchnerista, respondeu:
— Aí não sei, aí não sei.
Vitória kirchnerista na Argentina
Neste domingo, o candidato kirchnerista Alberto Fernández, que teve a ex-presidente Cristina Kirchner como vice, venceu as eleições primárias na Argentina. A chapa de Fernández tinha 47,66% dos votos contra 32,08% da chapa de Macri, atual presidente.
A vitória da chapa de oposição nas primárias presidenciais argentinas representou um revés para o presidente Jair Bolsonaro, na avaliação de integrantes da cúpula militar e da diplomacia brasileira.
Desde maio, Bolsonaro tem feito reiterados ataques a Cristina, inclusive em entrevista à imprensa estrangeira, e pedido à população argentina que não votasse nela. Para ele, o retorno da hoje senadora ao Poder Executivo pode fazer com que a Argentina se torne uma Venezuela.
De acordo com os dados oficiais, o comparecimento às urnas foi alto, com a participação de 75% dos eleitores. As chamadas Paso (Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias) foram criadas em 2009, com a intenção de diminuir o número de candidaturas que concorriam na eleição.
As primárias argentinas servem mais como uma espécie de pesquisa eleitoral confiável, pois o voto é obrigatório, do que para definir as chapas, que já foram escolhidas por cada coalizão.
Na última eleição, em 2015, o kirchnerismo ganhou nas primárias e no primeiro turno, com Daniel Scioli. No entanto, Macri venceu no segundo turno e se tornou presidente.