Duplicada aos soluços a partir do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), a BR-116 entre Guaíba e Pelotas teve seus primeiros trechos concluídos neste mês, sete anos após assinatura da ordem de serviço. São 27 quilômetros liberados para o tráfego, 15 deles entre Tapes e Camaquã e 12 em São Lourenço do Sul. Na segunda-feira (12), além de inaugurá-los, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciará a entrega de outros dois trechos, totalizando 47 quilômetros de obras prontas. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) projeta que cada fração deste asfalto estará conectada até dezembro de 2021, formando 211,22 quilômetros ininterruptos de pista dupla no sentido Pelotas-Guaíba.
A reportagem percorreu essa parte da rodovia na quinta-feira (8) e encontrou uma estrada que alterna entre pista dupla e simples, com desvios bem sinalizados. Equipes trabalhavam na colocação de placas verticais, pintura de paradas de ônibus, retirada de antigos tachões refletivos e ajustes no canteiro central, todo ele em grama. Duas retroescavadeiras desobstruíam o canal de escoamento da água da chuva e construíam passagens para pedestres.
Para a comerciante Ligiane das Neves Klumb, de 43 anos, a duplicação veio a calhar, aumentando até a expectativa de vendas. Há dois anos, ela, o marido e a filha Camila, de 22 anos, abriram uma loja de produtos coloniais no km 453, em São Lourenço do Sul, à margem da rodovia. Com a construção da nova pista, o container amarelo recheado de pães, linguiças, licores e conservas ficou mais perto do asfalto, bem no campo de visão dos motoristas.
Ter apenas uma faixa em cada sentido dificultava o acesso à loja, já que carros que trafegavam de Porto Alegre a Pelotas precisavam esperar, no meio da estrada, a melhor oportunidade para virar à esquerda para acessar a propriedade da família. Durante a obra, algumas máquinas encobriam o empreendimento. Agora, tudo mudou. As patrolas se foram, a duplicação está liberada e a família foi beneficiada com um retorno ao alcance dos olhos.
— Antes, o comércio ficava mais escondido. Agora, está encostado no asfalto. No dia que liberaram para os carros, pegamos umas cadeiras e ficamos admirando o fluxo. Nem acreditávamos naquilo — conta.
Trecho teve 20 mortes em 2018
Em 2018, aconteceram 244 acidentes entre Guaíba e Pelotas. Vinte pessoas morreram, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). No primeiro semestre deste ano, foram 105 acidentes e 13 mortes, como a de uma mulher de 26 anos que dirigia um Ford Ka na noite de 23 de maio. O veículo dela colidiu frontalmente com um caminhão no km 433, em Cristal, a 20 quilômetros do container dos Klumb.
— Vimos muitos acidentes aqui. Às vezes, ouvíamos o barulho e corríamos para socorrer as pessoas. Era bem normal isso — lembra Camila, prevendo diminuição dos acidentes.
A aposentada Zoé Corrêia da Silveira, de 65 anos, mora há 30 anos em Camaquã, ao lado da pista antiga. Já viu ocorrências de trânsito que a deixaram assustada, como a vez que um carro invadiu o pátio vizinho e bateu na casa de seu pai. Por sorte, não houve feridos graves.
— Acho que as colisões vão diminuir agora, porque aquelas ultrapassagens perigosas não vão mais acontecer — projeta.
Conforme a PRF, a duplicação "é positiva pela segurança que traz ao trânsito, uma vez que todo investimento em infraestrutura viária se paga pela melhoria nas estatísticas de acidentes". Para a corporação, a tendência é de que acidentes e mortes caiam por reduzir "muito a chance de colisões frontais" com a BR-116 duplicada.
Na tarde de quinta-feira (8), o caminhoneiro Carlos Cesar Almeida, 55 anos, descansava em um posto de combustível com a caçamba carregada de saibro. Elogiou a qualidades da obra, a sinalização, a quantidade de retornos e a redução dos congestionamentos que a novas pistas já trouxeram, sobretudo em Camaquã, onde mora, e em São Lourenço do Sul.
— Andar neste trecho nas segundas e sextas-feiras era uma tristeza por causa do para e arranca. O pessoal tinha de esperar em cima da rodovia para acessar os postos e isso gerava de um ou dois quilômetros de tranqueira — recorda.
Exército assumiu dois lotes em janeiro
Desde 7 de janeiro, o 1º Batalhão Ferroviário de Lages (SC), único de engenharia de construção no Sul do Brasil, trabalha na duplicação dos lotes 1 e 2, nas cidades de Guaíba, Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel e Sentinela do Sul. A empreiteira responsável pela obra entrou em recuperação judicial e o trecho estava parado há dois anos. Neste local, a duplicação está 59,20% pronta e deve ser concluída em dezembro de 2021. O custo total nos dois lotes é calculado em R$ 207 milhões.
Trechos a serem inaugurados neste mês
- 19 quilômetros no lote 9, entre Turuçu e Pelotas
- 12 quilômetros no lote 7, em São Lourenço do Sul
- 1 quilômetro no lote 6, entre Cristal e São Lourenço do Sul
- 15 quilômetros no lote 4, entre Tapes e Camaquã
Evolução dos Lotes
Com investimento de R$ 860 milhões até aqui, obra avançou 63,28%. Dividida em nove lotes, está orçada em R$ 1,6 bilhão.
- Lotes 1 e 2
Guaíba, Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel e Sentinela do Sul
Do km 300,54 ao 351,34
59,20% executado
Obra em andamento
- Lote 3
Sentinela do Sul e Tapes
Do km 351,34 ao 373,22
63,01% executado
Obra em andamento
- Lote 4
Tapes, Arambaré e Camaquã
Do km 373,22 ao 397,20
87,32% executado
Obra em andamento
- Lote 5
Camaquã e Cristal
Do km 397,22 ao 422,30
48,45% executado
Obra em andamento
- Lote 6
Cristal
Do km 422,30 ao 448,5
56,67% executado
Obra em andamento
- Lote 7
São Lourenço do Sul
Do km 448,50 ao 470,10
66,60% executado
Obra em andamento
- Lote 8
São Lourenço do Sul
Do km 470,10 ao 489,00
79,20% executado
Obra em andamento
- Lote 9
Pelotas
Do km 489 ao 511,76
83,33% executado
Obra em andamento