A queda de 2% na bolsa e a alta do dólar para R$ 3,984 não foram os únicos reflexos da onda de pânico que tomou conta do mercado financeiro no Brasil em decorrência da crise argentina. Diante do desastre, o país foi obrigado a elevar sua taxa de juro para 74% ao ano. Para ter ideia do que isso significa, é bom lembrar que o Brasil, na crise cambial de 1999, havia levado a sua a 45%. Por lá, o dólar disparou mais de 30% e a bolsa despencou 43%. Além disso, o indicador de ameça de calote para o país do tango disparou e passou de mil pontos, contagiando o do Brasil. O indicador de risco do Brasil subiu de 133 pontos na sexta-feira passada (9), para 144, cerca de 8%. Foi um pequeno contágio, mas não escapou do efeito proximidade.
Uma simples derrota de Mauricio Macri não estava fora de cenário, depois da crise que se abateu sobre a Argentina em maio de 2018, que forçou o pedido de ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Uma alternativa ao nome do atual presidente havia sido cogitada: em vez de tentar a reeleição, Macri poderia indicar como sucessora a atual governadora da Província de Buenos Aires, María Eugenia Vidal. O problema é que, se Macri perdeu para a chapa formada por Alberto Fernández e Cristina Fernández de Kirchner, ex-presidente do país, por 15 pontos de diferença, María Eugenia foi ainda pior: o candidato de Cristina, Axel Kicillof, abriu 17 pontos de vantagem sobre a adversária. Então, não há plano B visível para o atual governo.
Entre a diferença expressiva e a falta de um plano B, o que os mercados viram, nesta segunda-feira (12) foi a virtual volta ao poder de Cristina Kircher e sua política econômica sem compromisso com o ajuste fiscal. A desvalorização do peso é, na Argentina, a face mais dramática dessa nova crise. A economia do país é extremamente dolarizada: vários preços de produtos com valor unitário mais alto, como eletrodomésticos, são cotados em dólar por lá, sem falar em negócios imobiliários. Quando Macri assumiu a presidência, em dezembro de 2015, a cotação estava em 11 pesos por dólar. Nesta segunda-feira, fechou em 57,30 pesos por dólar. A alta na inflação é inevitável. E como o país tem baixas reservas cambiais, ao redor de US$ 45 bilhões, quase 10 vezes menos do que o Brasil, vai sobrar, outra vez, para os países que exportam para a Argentina.
– Precisamos diminuir nossa dependência de exportações de manufaturados para a Argentina. No passado, com baixo nível de reservas, eles já determinaram que importariam o que precisasse, o que não precisava deixavam para depois – avalia Cezar Müller, coordenador do Conselho de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiergs.