Para os supersticiosos, as eleições primárias da Argentina terem caído num domingo ensolarado podem ser um sinal de tempos melhores. O clima bom e a necessidade de vencer a crise econômica levaram 75% dos 34 milhões de eleitores às urnas hoje (11). A votação serve para definir os partidos e candidatos habilitados a participar das eleições gerais, dia 27 de outubro.
Os primeiros dados oficiais, divulgados por volta das 22h30min, indicaram que o peronista de centro-esquerda Alberto Fernández, que tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner, tinha 15 pontos de vantagem sobre o atual presidente da Argentina, Mauricio Macri. A vantagem se manteve de acordo com parcial das 6h desta segunda (12): com 99,37% dos votos apurados, Fernández apareceu com 47,66% dos votos válidos e Macri, 32,08%.
O domingo de votação
Fernández, 60 anos, votou no meio da manhã em Puerto Madero, o moderno bairro de Buenos Aires onde vive com sua companheira Fabiola Sánchez, atriz e jornalista cultural. - Estou muito tranquilo e relaxado, esperando que os argentinos decidam. Os peronistas estão todos unidos. Estamos muito satisfeitos - , disse.
Macri também disse estar tranquilo.
— Tudo o que tínhamos para pôr no coração, nós colocamos — , declarou.
Os centros de votação fecharam às 18h. O percentual de eleitores participantes foi considerado alto para as primárias, segundo o ministro do Interior, Rogleio Frigerio.
Pauta econômica na agenda eleitoral
Assombrados por uma das mais altas inflações do mundo, que segundo analistas deve chegar a 40% em 2019, e por uma pobreza que atinge 32% da população, os argentinos veem diante de si dois projetos antagônicos: o de Macri, que leva adiante um plano de ajuste apoiado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), e o de Fernández, que pretende estimular a economia com desembolsos públicos e é visto com desconfiança pelos mercados.
Fernández foi chefe de gabinete do já falecido ex-presidente Néstor Kirchner na época em que a Argentina se afastou do FMI, após cancelar o pagamento dos 9,6 bilhões de dólares ainda devidos ao organismo. Ele também foi chefe de gabinete de Cristina Kirchner, até 2008, durante seu primeiro ano de governo.
A disputa está voltada entre os dois modelos que os argentinos já conhecem e a polarização é muito evidente.
— É uma campanha onde se busca trabalhar nos aspectos negativos do outro candidato. É uma eleição entre o temor e a decepção: o temor de que o governo Cristina Kirchner volte, com toda sua cota de corrupção, ou a decepção de que siga uma economia como a de Macri, que, em termos sociais, não dá resultados — considerou o analista político Rosendo Fraga.