O Rio Grande do Sul tende a sentir efeitos opostos da guerra comercial travada por Estados Unidos e China. Com a imposição de barreiras tarifárias entre os países de Donald Trump e Xi Jinping, as maiores economias do mundo devem apostar nas compras de outros parceiros, como o Brasil. Isso pode aumentar as vendas no curto prazo de setores da indústria e da agropecuária para as duas nações. Por outro lado, os atritos entre as potências abalam o humor do mercado financeiro e causam incertezas sobre o comportamento da taxa de câmbio. No momento de fechar acordos, a imprevisibilidade não agrada a empresários.
Em 2018, a China seguiu como o principal destino das exportações do Rio Grande do Sul. Os embarques tiveram alta de 14,2% frente a 2017, indica o Ministério da Economia. No mesmo período, Estados Unidos ocuparam a quinta posição do ranking, com avanço de 1,6%.
— A guerra comercial pode fazer com que o Brasil e o Rio Grande do Sul vendam mais produtos para EUA e China. Isso é positivo, mas transitório. Não se sabe quanto tempo a guerra comercial vai durar – pondera o coordenador do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Cezar Müller.
— Quando a China vende menos para os EUA, pode oferecer seus produtos a outros mercados nos quais o Brasil está presente, competindo com nossas mercadorias — acrescenta.
Conflito tem reflexo no nível do PIB global
Na indústria, um dos setores que acompanham com mais atenção os desdobramentos da guerra comercial é o calçadista. O principal destino das exportações do segmento são os EUA. Com a imposição de tarifas por Trump contra a China, a expectativa é de que os embarques ao mercado americano sigam em alta no segmento. Entre janeiro e abril, as vendas gaúchas aos americanos alcançaram US$ 26,7 milhões, salto de 37% em relação a igual intervalo de 2018, aponta a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
— Apesar da alta, os EUA substituíram muitas importações da China pelas de outros asiáticos, como Vietnã e Camboja — explica a economista Priscila Link, coordenadora de inteligência de mercado da Abicalçados.
Na agropecuária, a batalha comercial tende a estimular as vendas de soja e carnes para a China, diz o consultor Carlos Cogo. Os asiáticos são os principais compradores dessas mercadorias no Brasil.
— Os setores de soja e carnes estão mais estruturados para atender a uma demanda maior. Devem ser beneficiados no curto prazo — argumenta Cogo.
Economista do Sistema da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz tem opinião divergente:
— É uma situação péssima.
A guerra comercial pode parecer boa, por aumentar as vendas de soja para a China. Mas uma coisa é o Uruguai entrar em conflito com a Argentina. Outra é a primeira economia do planeta abrir guerra contra a segunda. Isso faz o PIB mundial crescer menos. Com isso, a demanda global por produtos brasileiros será menor.
Instabilidade de cotação cambial preocupa
A guerra comercial entre EUA e China foi acirrada neste mês. Primeiro, o presidente americano, Donald Trump, anunciou elevação de tarifas de importação sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses. A resposta veio em seguida, com os asiáticos subindo alíquotas sobre mercadorias americanas, no total de US$ 60 bilhões.
— A guerra comercial pode ser uma oportunidade passageira para o Estado. Por isso, devemos priorizar a condução de reformas em todo o país, a redução do custo Brasil. Perdemos muito espaço no mercado internacional — defende o coordenador do Conselho de Comércio Exterior da Fiergs, Cezar Müller.
Em tese, o dólar em nível avançado, próximo dos R$ 4, beneficia segmentos exportadores. Por outro lado, prejudica setores que precisam pagar mais para importar insumos. O que desaponta os dois grupos é a instabilidade cambial.
De janeiro a abril, as exportações brasileiras para a China subiram para US$ 19,4 bilhões, alta de 10,3%. As vendas de soja responderam por 37% do total. Em igual intervalo, os embarques brasileiros aos Estados Unidos alcançaram US$ 9,5 bilhões, crescimento de 9,3%. As principais mercadorias foram produtos de aço e ferro (13% do total).
Ainda não é possível avaliar com exatidão o quanto subiram ou desceram as exportações totais do Rio Grande do Sul e dos demais Estados. A dificuldade ocorre em razão de uma alteração no sistema do Ministério da Economia.
Possíveis benefícios
Calçados
Os EUA são o principal destino das exportações de calçados gaúchos. Com a guerra comercial, há expectativa de que as vendas sigam em alta. Entre janeiro e abril, os embarques alcançaram US$ 26,7 milhões, salto de 37% em relação a igual intervalo de 2018, segundo a Abicalçados.
Soja e carnes
A China é o principal mercado de soja e carnes (bovina, suína e de frango) enviadas pelo Brasil ao Exterior, mostram dados de janeiro a abril divulgados pelo Ministério da Economia. Com a tensão, analistas projetam mais espaço para as mercadorias gaúchas no país asiático.
Possíveis prejuízos
Grande oscilação no dólar
A guerra comercial causa grande volatilidade no mercado de câmbio. Isso diminui a previsibilidade de empresários na hora de fechar negócios – cotados em dólar – em outros países.
Menor crescimento do PIB mundial
As sucessivas retaliações entre americanos e chineses elevam incertezas. Sem a garantia sobre a duração da guerra comercial, o PIB mundial deve crescer menos, segundo estimativas de instituições como a OCDE. Ou seja, países como o Brasil, que têm acordos com diversos parceiros, correm o risco de vender menos no mercado externo.