Maio tem sido um período de assombração para a economia nacional. Desde 2017, primeiro ano após a recessão, expectativas de que o país confirme retomada mais consistente são frustradas quando o calendário chega ao quinto mês.
Em maio de 2018, a greve dos caminhoneiros jogou a economia na lona, provocando desabastecimento em diversos setores. Em igual período de 2017, a gravação de conversa entre Michel Temer e o empresário Joesley Batista colocou o então presidente na berlinda e espalhou pânico no mercado financeiro. No dia seguinte à divulgação do áudio, a bolsa de valores teve o maior tombo em quase nove anos.
Em parte, a frustração de expectativas se repete em maio de 2019 com os atritos entre o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso, que retardam o andamento de reformas prometidas pelo então candidato durante a campanha eleitoral do ano passado. Para completar o atual cenário na economia, marcado pela revisão nas projeções de crescimento ao final do ano, o país pode fechar o mês com o retorno do fantasma da recessão técnica. O termo é usado por especialistas para descrever dois trimestres consecutivos de baixa no Produto Interno Bruto (PIB).
Na quinta-feira, penúltimo dia do mês, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta o PIB do primeiro trimestre do ano, que deve ser negativo, segundo estimativas. Ao fazer a divulgação dos dados, o instituto costuma revisar o desempenho da economia no período anterior. Como o PIB ficou praticamente estável no quarto trimestre de 2018, com leve alta de 0,1%, há possibilidade de o resultado ser atualizado para baixo e se tornar negativo. Isso bastaria para a volta da recessão técnica.
Em 2016, quando houve a última queda do PIB anual no país, maio também abrigou desdobramentos de impacto na economia. À época, setores como o mercado financeiro enxergaram no afastamento de Dilma Rousseff da Presidência a chance de a reforma da Previdência avançar. Mas isso não ocorreu no governo Temer, gerando frustração.
Para analistas, resta saber se a gestão Bolsonaro conseguirá espantar os calafrios de maio e emplacar projetos como o de mudanças no sistema de aposentadorias.
— O governo precisa diminuir ruídos, aprovar reformas e, assim, trazer investimentos ao país — diz a pesquisadora Juliana Cunha, da Fundação Getulio Vargas (FGV).