Não houve surpresa com o resultado negativo do Indicador de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) no primeiro trimestre. O susto veio com o tamanho do recuo acumulado nos três primeiros meses do ano, de 0,68%, e a revisão do tropeço de fevereiro, de 0,73% para 0,98%. Entre a incerteza quanto ao futuro da guerra comercial entre Estados Unidos e China e a preocupação com o futuro da economia nacional, nesta quarta-feira (15) o dólar voltou a superar os R$ 4 pela manhã, para fechar com alta mais moderada, de 0,51%, a R$ 3,996, e a bolsa caiu 0,51%, para 91,6 mil pontos, muito distante dos 100 mil que chegou a roçar em 18 de março . É o mercado financeiro saindo do período de exuberância irracional e acordando para a gravidade da situação da economia.
– A surpresa foi o tamanho do negativo – reforça Claudio Considera, pesquisador da Fundação Getulio Vargas que calcula indicadores antecedentes.
Com a quase certeza de que o a variação do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que será divulgado no dia 30 pelo IBGE, seja negativa, Considera não descarta o risco de um segundo também de queda, diante dos primeiros dados de abril, o que configuraria a volta do Brasil à recessão técnica:
– Com essa bagunça política, em que o governo não consegue aprovar qualquer proposta, nem saímos direito da recessão, corremos o risco de voltar.
Economista da Órama, Alexandre Espírito Santo tem diagnóstico semelhante, mas melhor prognóstico:
– Há ruídos políticos no governo que não favorecem a retomada. Filhos e ministros fazem discussões paralelas que não dão a solução de que a gente precisa.
Espírito Santo avalia que a expectativa de que as reformas seriam aprovadas logo “virou muito rapidamente”, mas afirma ainda estar otimista:
– Acredito que vai ter reforma aprovada até agosto, desidratada, mas não raquítica.
Para isso, no entanto, afirma que o governo "deveria focar em resolver os problemas, não debater temas muito menos importantes".
– Em vez de focar na celeridade da solução dos problemas, ficam olhando para discussões paralelas.
Considera argumenta que até a oposição está "apagada", porque não consegue fazer mais estrago do que o próprio governo:
– Todo o tempo, o governo está providenciando tsunamis.
Para evitar um novo trimestre negativo e até que o indicador total do ano se tinja de vermelho, o economista faz um apelo:
– É preciso fazer a reforma, pelo amor de Deus. E é preciso que o governo comece a encarar seriamente seu papel de governo. Não tem saída.