Em comentário pouco claro, o presidente Jair Bolsonaro disse, na sexta-feira (10), que o Brasil pode enfrentar um “tsunami” na próxima semana. Usou a expressão ao ser indagado sobre as derrotas do governo federal no Congresso, como a criação de mais dois ministérios e a manutenção do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) no Ministério da Economia, contrariando a proposta de que migrasse para o da Justiça.
– Talvez tenhamos um tsunami na semana que vem, mas a gente vence o obstáculo com toda a certeza. Somos humanos, todos erram. Alguns erros são perdoáveis, outros não – disse o presidente.
Pode ter sido uma “semana que vem” genérica, a próxima, ou a seguinte, qualquer uma no futuro. Mas a inabilidade discursiva do presidente da República – e de muitos de seus ministros – começa a cobrar seu preço. Tanto nas reviravoltas em votações no Congresso, como as do orçamento impositivo e da reforma administrativa, quanto na confiança na economia.
Os tuítes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foram decisivos para envolver a semana na névoa da incerteza – ora considerava “construtivas” as negociações para uma trégua na guerra comercial com a China, ora ameaçava elevar para US$ 325 bilhões o valor de produtos chineses sobretaxados. Mas anúncios confusos, quase ininteligíveis, como os cortes no orçamento das universidades públicas – que oscilaram de 30% a 3,4%, conforme as contas do ministro da Educação, não ajudaram a dar conforto a cidadãos, consumidores, empresários e mercado financeiro no Brasil.
Isso sem contar a escatologia dirigida por um guru de comportamento adolescente valentão a ministros do próprio governo. Foi uma semana difícil para quem esperava do Planalto o cumprimento de um programa liberal, mas minimamente racional. Há racionalidade na Esplanada. Só não está aparecendo tanto quanto deveria. Em seu lugar, pululam criadores de tsunamis, que não estão fora ou contra o governo, mas enraizados na estrutura de poder.