Foi no domingo: em dois tuítes, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reverteu toda a expectativa de entendimento com a China. Disse que as sobretaxas já cobradas de produtos chineses que entram no mercado americano ajudaram a reforçar a economia local e anunciou intenção de levar para 25% a salvaguarda para mais US$ 200 bilhões em importações.
O resultado veio sob a forma de maré vermelha nas bolsas de valores de quase todo mundo, de Nova York a Xangai, de Paris a Mumbai. Londres foi uma exceção rara. É difícil fazer a conta, mas as perdas em valor de mercado foram milionárias, talvez bilionárias. A abrupta forma de comunicação foi interpretada como pressão para que Xi Jinping, presidente da China, concentre-se na mesa de negociação.
O quanto foi pressão gratuita e quanto foi motivada por temores de que a conversa endurecesse é uma medida que ainda terá de ser feita. O certo é que a incerteza elevou a famosa aversão ao risco num período do ano já mal afamado. No mercado financeiro, existe um ditado: “sell in May and go away” (venda em maio e caia fora).
No Brasil, foi o mês do Joesley’s Day, do Ilan’s Day (surpresa na decisão do BC sobre juro) e da greve dos caminhoneiros. O mau uso das redes sociais por chefes de Estado é uma característica comum entre os EUA, o Brasil e a Itália, onde dois vice-primeiro-ministros, Matteo Salviani, da Liga, e Luigi di Maio, do Movimento Cinco Estrelas, batem boca como se fossem adolescentes rivais.
Enquanto a Trump tudo é perdoado, porque os EUA cresceram 3,2% no primeiro trimestre ante igual período do ano anterior, Brasil e Itália têm economia estagnada, com tendência a queda. Em comum com o governo de Jair Bolsonaro, as duas forças que tentam conduzir em coalizão o futuro da Itália tem um guru das redes sociais: Steve Bannon.
Para Bannon, o que importa é fazer barulho. Falem mal, mas não deixem espaço para outros protagonistas. A paciência do mercado financeiro e do empresariado começa a se esgotar. Em vez de se focar nas reformas e em medidas de curto prazo que devolvam ao menos o ritmo muito lento da reação dos anos sucessivos ao fim da recessão, 2017 e 2018, o governo se engalfinha em discussões estéreis. Seriam toleradas, como Trump, se o Brasil tivesse encontrado o caminho da recuperação econômica. Nesse momento, em vez de se aproximar, parece estar se afastando.