Se o primeiro trimestre de 2019 já aparecia feio no retrovisor, uma camada a mais de lama respingou na sexta-feira (3). A queda de 1,3% na produção industrial de março, e a redução acumulada de 0,7% em relação ao trimestre anterior, além de tombo de 2,2% ante o primeiro trimestre de 2018. As duas primeiras variações correspondem a quase o dobro das estimativas para o indicador. Com mais esse revés, consolida-se a perspectiva de variação negativa do PIB no primeiro trimestre, que já vinha sendo desenhada.
Não é má notícia só para o setor. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) avalia que o cenário desenhado pelos dados do IBGE apontam que
"a indústria entra em nova fase recessiva", por somar dois trimestres consecutivos de queda – conceito de recessão técnica. A entidade adverte, ainda, que "à medida que esse quadro se prolonga, fica cada vez mais difícil falar em recuperação". Os casos mais graves, lista o Iedi, são os segmentos de alimentos, têxteis, vestuário e acessórios, equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos e móveis.
O resultado espalhou uma nova onda de revisões negativas para o PIB de 2019, para indicadores abaixo de 1%. Grandes bancos já registraram o impacto em suas projeções do PIB do primeiro trimestre: o Itaú dobrou o tamanho do tropeço que já previa, de -0,1% para -0,2%. O Bradesco, que tinha a mesma estimativa inicial, avisou que vai revisar, mas não
informou quanto. A onda de pessimismo será percebida no boletim Focus que o
Banco Central divulgará na segunda-feira.
No mercado financeiro, o efeito foi a queda dos juros futuros. O que poderia ser visto como positivo – cai o custo dos financiamentos – é na verdade reflexo do seguinte raciocínio: com a quase certeza de recuo no PIB do primeiro trimestre, será preciso evitar que o mesmo ocorra no segundo, entre abril e junho. Até agora, os resultados do quarto mês despioraram um pouco, mas sem fôlego para inverter o sinal. Cresce, portanto, a pressão para que o Banco Central volte a cortar o juro básico. Se a economia não destravar, o governo Bolsonaro corre o sério risco de retornar à recessão que o Brasil deixou para trás em 2016. Com todo o desgaste que isso significa para aprovação de projetos polêmicos.