Foi tão fora do tom do atual governo a entrevista concedida pelo secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, ao jornal Folha de S.Paulo que reações eram esperadas. Mas foi em tom duro e autocrático que o presidente Jair Bolsonaro respondeu à proposta detalhada de criação da Contribuição Previdenciária (CP), um novo formato da velha CPMF. Entusiasmado, Cintra disse que ninguém ficaria de fora da cobrança:
– A base da CP é universal, todo mundo vai pagar esse imposto, igreja, a economia informal, até o contrabando.
Pressionado por sua base de apoio evangélica, Bolsonaro gravou um vídeo e publicou em sua página no Facebook, dizendo ter sido "surpreendido" pela declaração do secretário e afirmou:
– Nenhum novo imposto vai ser criado, em especial para igrejas.
Tentando dar justificativa técnica, afirmou que haveria "bitributação", mas se há um segmento em que esse risco é quase zero, devido a várias isenções tributárias, é o das igrejas. A volta da CPMF foi ensaiada no início do segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), aquele que não terminou. Durante a campanha, toda vez que algum assessor mencionou a hipótese de uma nova CPMF – e foram ao menos duas–, o então candidato se apressou a desmentir.
Em outro arroubo dilmiano, durante a abertura da Agrishow, em Ribeirão Preto, Bolsonaro pediu a Rubens Novaes, presidente do Banco do Brasil – com o qual criou a polêmica da proibição de um comercial de TV na semana passada:
– Apelo para seu coração, seu patriotismo, que esses juros caiam um pouquinho mais.
O que caiu em seguida foi a cotação das ações do BB negociadas na bolsa de valores. O preço dos papéis, que haviam chegado a R$ 50,20, encolheu para a faixa de R$ 49,15, cerca de 0,4% a menos – até o início da tarde. Agora, o presidente terá mais uma explicação a dar: se vai ou não intervir no maior banco público do Brasil, depois do episódio ainda não totalmente superado da interferência na política de preços da Petrobras.