Instituição que tem as mais quentes e precisas informações sobre a atividade, o Banco Central (BC) parece ter jogado a toalha. Na ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada semana passada, admite que "indicadores disponíveis sugerem probabilidade relevante de que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha recuado ligeiramente no primeiro trimestre do ano". O documento, divulgado nesta terça-feira reconhece o arrefecimento entre o fim de 2018 e o início de 2019. O começo do ano aquém do esperado, aponta o BC, também embute alguma redução do ritmo de crescimento para os próximos trimestres.
O BC observa que a indústria, especialmente, segue com elevado nível de ociosidade e, por outro lado, a alta taxa de desemprego também joga contra a possibilidade de mais vigor na recuperação — que a autoridade monetária segue a esperar para o restante do ano. Mesmo assim, chama a atenção para vários fatores que têm efeito negativo para a atividade. "Em especial, incertezas afetam decisões de investimento que envolvem elevado grau de irreversibilidade e, por conseguinte, necessitam de maior previsibilidade em relação a cenários futuros", alerta o BC. Ao mesmo tempo, a cena externa, referência à desaceleração global e à guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, é ingrediente extra de desconfiança.
O sentimento de um trimestre com PIB negativo foi reforçado pela pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que acompanha o desempenho do setor de serviços, o de maior peso na economia. Na passagem de março para fevereiro, a retração foi de 0,7%. Para piorar, foi o terceiro recuo seguido, o que mostra a tendência de perda de fôlego. E, para elevar ainda mais o grau de preocupação, março teve queda de 2,3% sobre o mesmo mês do ano passado, quebrando uma sequência de sete altas consecutivas.
Com as constantes revisões para baixo das expectativas para o PIB em 2019, começam a crescer as apostas até em alta inferior ao 1,1% de 2018, em meio a cenário global confuso, atrasos, dúvidas sobre a reforma da Previdência e crises criadas pelo próprio governo Bolsonaro. Em linha com a preocupação do BC, a Fundação Getulio Vargas mostrou também nesta terça-feira que o Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira recuou de março para abril. Em poucos dias estaremos no segundo semestre. A frustração pode ser ainda maior.