Agora pagamento por celular vai virar negócio de gente grande, com a força de um dos maiores grupos econômicos do país, a Cosan – dona de Raízen (antiga Esso), Moove e Rumo –, e forte parceria com duas empresas gaúchas, o banco Topázio, do investidor Ernesto Corrêa da Silva, e da 4all, de José Renato Hopf. As três forças criaram a Payly, sistema de pagamentos que dispensa cartão de crédito, para reduzir os custos e a intermediação financeira, diz Juliano Prado, CEO do novo negócio. É uma carteira digital, mas como Prado faz questão de destacar, não é "tradicional" – como se já houvessem carteiras digitais tradicionais.
– Costumo dizer que somos uma fintech bastante gaúcha – brinca o executivo. – Fizemos sociedade com o banco Topázio, temos uma equipe de desenvolvedores já instalada no Tecnopuc, onde unimos forças com a 4all e todas as suas techs (a 4all tem nove unidades a seu redor). Além disso, Porto Alegre foi piloto para o teste que fizemos de setembro a dezembro do ano passado, com 2,5 mil clientes.
A Payly não trabalha com cartão, o que permitiu reduzir taxas para lojistas, que são em média de 2,7% no crédito e 1% no débito, para 0,1%. Esse é o primeiro e principal diferencial da proposta. Prado explica que isso é possível porque os cartões carregam uma série de custos de intermediários, da administradora à adquirente, passando pelo risco de fraude.
– Até onde sabemos, não há outra carteira digital atuando sem cartão de crédito no Brasil.
A ideia é tirar todos os custos e pagar ao lojista no dia seguinte, nada disso de pagamento em 30 dias. Durante o piloto, vimos na prática que os lojistas repassam essa redução, integral ou em parte, para o consumidor. E os lojistas passam a ser nossos maiores vendedores, porque ganha mais.
O executivo explica que a Payly faz conexão direta com vários bancos, permitindo carregamento da carteira direto no aplicativo do banco que o cliente usa no celular, por exemplo. É uma das formas de "rechear" a carteira.
Uma das razões que motivou a Cosan, uma companhia que fatura cerca de R$ 40 bilhões ao ano – boa parte de forma pulverizada, em postos de combustíveis –, foi o alto custo das transações financeiras, detalha Prado. A ambição da empresa é digitalizar todas as suas operações financeiras, porque toda geração de boleto, DOC ou TED tem custo elevado. Na transação digital, o custo é zero, garante Prado:
– A Cosan quer investir mais no Rio Grande do Sul, onde existe um polo importante de tecnologia. Convidamos o Topázio para fazer essa parceria, estamos trabalhando há dois anos e meio com a 4all.
Parte do sistema de pagamentos é criptografada, relata o executivo, mas a Payly ainda não usa blockchain, sistema que deu origem a moedas como o bitcoin. Pensa em fazer isso apenas quando começar a aplicar o processo de transações financeiras digitais no Exterior.
– Juntamos o útil ao agradável. E quando testamos o piloto, lojistas e clientes compraram muito mais aqui do que em outro teste feito no interior de São Paulo – afirma o executivo.
Prado não revela o valor do investimento da Cosan no projeto, só afirma que é "bem maior" do que costumam ser as primeiras rodadas de investimento de startups. Também rejeita a ideia de a Payly ser uma espécie de nova batalha da "guerra das maquininhas", travada entre administradoras tradicionais de cartão de crédito, como Cielo, bancos que começam a operar o sistema, como o Safra, e novas entrantes, como a Stone.
– Vemos uma proliferação de fintechs, o que consideramos positivo por que tem o mesmo propósito, acabar com a ineficiência do sistema financeiro.