Mal começou o "day after" da revelação das delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista e a bolsa de valores já acionou duas vezes o circuit breaker, mecanismo que interrompe as negociações quando a queda passa de 10%. Uma ocorreu no pré-mercado, e outra pouco mais de meia hora depois da abertura. É a primeira vez em que isso ocorre desde a crise de 2008. Em toda a crise pré-impeachment de Dilma Rousseff, as oscilações não chegaram a esse ponto.
E esse não é o único sinal de pânico no mercado: os juros futuros, importante indicador de custo de empréstimo para as empresas, elevam-se em mais de um ponto percentual, o risco Brasil sobe mais de 30% e o dólar avança mais de 8%. A médio prazo, esse é o sinal mais preocupante para a economia que, até o final da tarde da fatídica quarta-feira, ainda flertava com a recuperação.
Caso a incerteza persista, a alta do dólar pode ser a consequência mais direta no bolso dos brasileiros. E não apenas dos que pretendem viajar ou têm compromissos vinculados à moeda americana: se o dólar subir de forma persistente, pode afetar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) marcada para o dia 31 deste mês.
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Até agora, a perspectiva era de um corte superior a um ponto percentual. Ainda deve ocorrer uma redução no juro básico, mas o BC será forçado, pelas circunstâncias, a ser mais cauteloso. Esse comportamento dos mercados terá impacto, também, nas decisões políticas dos próximos dias. Os empresários eram, até a quarta-feira (17), o maior ponto de apoio do governo Temer. Boa parte deles, a essa altura, sabe que o atual presidente já não tem condições de liderar qualquer reforma. O desejo é de um desfecho rápido para a crise, mas seus efeitos já estão embutidos no impacto de curto e médio prazo.