Mais uma reação intempestiva do presidente Jair Bolsonaro ao ser perguntado sobre a terceira ameaça de renúncia de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, foi classificada
de "mais uma automutilação" por um ex-ministro que já esteve em situação semelhante.
O presidente afirmou que "ninguém é obrigado a continuar como ministro meu", dando
a impressão de estar rifando um de seus superministros. Marcílio Marques Moreira, ministro da Economia no final do governo de Fernando Collor de Mello, interrompido por um impeachment, diz não lembrar de uma situação semelhante na história recente, que
ele acompanha de forma privilegiada, por conhecer bem tanto Guedes como Bolsonaro.
– Conhecendo a ambos, uma situação como essa passa a ser normal, o que é um pouco desanimador – disse Marcílio.
Conciliador, o ex-ministro diz que não se deveria "dar muita atenção" a esse episódio, que caracteriza como "o tipo de declaração que não ajuda, é mais uma automutilação":
– O Paulo (Guedes) tem razão. se o Congresso não aprovar a reforma da Previdência, e não lá no final do ano, mas logo, teremos uma situação muito séria, a economia está sangrando. Mas foi uma declaração infeliz. O presidente costuma dizer coisas assim, deve ter entendido como se fosse algo contra ele. Guedes é o pau da barraca. Já estive em circunstância com alguma semelhança.
Na avaliação de Marcílio, o silêncio de ambos seria mais apaziguador diante de uma "situação extremamente difícil". A reforma seria o primeiro passo de um processo de mudança de outros aspectos que, segundo o ex-ministro, estão emperrando a economia, sobretudo o investimento:
– A incerteza é muito mais séria do que o risco. Como dizia um economista clássico, (Frank) Knight (da Escola de Chicago, como Guedes), o risco é sempre calculável, pode-se fazer seguro, mas a incerteza leva à paralisia. É um momento difícil, mas não desesperador.