O discurso de disrupção do candidato Jair Bolsonaro e o fato de pertencer a um pequeno partido suscitaram comparações entre ele e o ex-presidente Fernando Collor. Ex-ministro da Economia do grupo de notáveis que Collor montou para tentar reagir ao desgaste, Marcílio Moreira Marques vê, de fato, grandes semelhanças, mas também aponta diferenças cruciais. Egresso do mercado financeiro, Marcílio vê a reação extremada na bolsa e no câmbio como típica de momentos de excesso. Diplomata de carreira, o ex-ministro não mencionou o nome do candidato do PSL. Referiu-se a ele como "o candidato que é parecido".
Os pontos comuns
“As principais semelhanças estão no fato que que ambos não estavam no mainstream, no principal veio da política. Um tinha só a visão um governador de Estado diante do poder central. O candidato considerado parecido é deputado há muitos anos em Brasília. São pouco parecidos, por serem outsiders, mas são outsiders de tipos bastante diferentes. Também vêm de partidos pequenos, sem grande representação no Congresso. Isso realmente criou problemas para Collor, que não gostava de negociar, ou de receber congressistas. Dizia que só iam pedir. Isso o tornou muito vulnerável.”
As diferenças
“Uma das dessemelhanças diz respeito à democracia, ao menos nas declarações. Talvez internamente o atual candidato tenha o mesmo compromisso, mas se expressa de forma diferente. No dia da abertura do processo de impeachment, fui ao Palácio (do Planalto) levar o relatório das políticas monetária e cambial. Calmo, ele só comentou que era a melhor notícia que poderia ter naquele dia. Ambos são muito assertivos, mas talvez o Collor fosse uma pessoa com visão um pouco mais global. Tinha uma visão estratégica para o Brasil, de modernização e de superar elementos que estavam inibindo o crescimento. E tinha total consciência do problema fiscal.”
Reação de dólar e bolsa
“É típico do mercado, sempre tem esse exagero, esse excesso. A reação ocorre em progressão geométrica, não aritmética. Depois, volta ao normal. O mercado entende que um dos candidatos não tem diagnóstico correto do que está ocorrendo. Mais do que isso, que não dá importância em si ao ajuste fiscal, por partir da premissa de que esse não é o problema preliminar e inarredável, a condição essencial da retomada do crescimento. O mercado conhece as linhas gerais do projeto do ‘posto Ipiranga’ (como é chamado Paulo Guedes). Vem sendo estudado há bastante tempo, sobretudo no Instituto Millenium. É evidente que riscos de todo lado. É conhecido o risco de que poderia haver dissonância entre o economista e o candidato. Talvez ninguém entenda 100% da sua proposta, mas entende as ideias de outros candidatos. É uma eleição do contra. Nunca houve eleição em que evitar o outro tivesse sido o aspecto mais importante.”