Desde que a campanha eleitoral esquentou, uma entrevista feita por Zero Hora em dezembro de 2014 com Jair Bolsonaro tem sido usada em programas jornalísticos e coletivas de imprensa em que o candidato do PSL à Presidência é o entrevistado.
Na reportagem publicada à época no site zerohora.com — intitulada Bolsonaro diz que não teme processos e faz nova ofensa: "Não merece ser estuprada porque é muito feia" —, o parlamentar, que recém havia sido eleito deputado federal mais votado do Rio de Janeiro pelo PP, foi indagado sobre a sua polêmica declaração feita na Câmara dos Deputados de que "não estupraria" a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) porque ela "não merece". Questionado por ZH, respondeu:
— Ela não merece porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece.
Na entrevista de 2014, Bolsonaro também falou sobre os direitos das mulheres. Suas declarações sobre o tema estão sendo resgatadas nesta campanha eleitoral por órgãos de imprensa.
Em cinco tópicos, relembre o que disse Bolsonaro a ZH em 2014:
1.
Em 10 de dezembro de 2014, ZH procurou Bolsonaro para entrevistá-lo sobre as declarações que ele havia dado em relação a Maria do Rosário. A ZH, falou:
Ela (Rosário) não merece (ser estuprada) porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece.
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2.
O repórter pergunta a Bolsonaro se haveria gente que "merece" ser estuprada, ao que o deputado responde:
O estuprador é um psicopata, ele escolhe suas vítimas. Não pega aleatoriamente. Não é a primeira mulher que passa ali numa área de penumbra que ele vai pegar e estuprar. Foi uma resposta, uma ironia naquele momento.
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3.
Outros questionamentos também foram feitos ao parlamentar, entre eles sobre os direitos das mulheres. Perguntado se ele, como deputado progressista, não tinha o papel de trazer a discussão sobre os direitos das mulheres à tona, respondeu na ocasião:
Eu sou liberal. Defendo a propriedade privada. Se você tem um comércio que emprega 30 pessoas, eu não posso obrigá-lo a empregar 15 mulheres. A mulher luta muito por direitos iguais, legal, tudo bem. Mas eu tenho pena do empresário no Brasil, porque é uma desgraça você ser patrão no nosso país, com tantos direitos trabalhistas. Entre um homem e uma mulher jovem, o que o empresário pensa? "Poxa, essa mulher tá com aliança no dedo, daqui a pouco engravida, seis meses de licença-maternidade..." Bonito pra c..., pra c...! Quem que vai pagar a conta? O empregador. No final, ele abate no INSS, mas quebrou o ritmo de trabalho. Quando ela voltar, vai ter mais um mês de férias, ou seja, ela trabalhou cinco meses em um ano.
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Ouça a fala do deputado:
Após ser questionado sobre qual seria, então, a solução, o deputado respondeu:
Por isso que o cara paga menos para a mulher, qual a solução... É muito fácil eu, que sou empregado, ou que estou aqui no serviço público, que não tenho nada a ver com um empregado meu mandado embora, falar que é injusto, que tem que pagar salário igual. Só que aquele cara que está produzindo ali, na ponta da linha, com todos os encargos trabalhistas, aquela pessoa que fica fora, que perde o ritmo de trabalho etc. etc., ele vai ter uma perda de produtividade. O produto dele vai ser posto mais caro na rua, ele vai ser quebrado pelo cara da esquina. (conversa com o repórter) Eu sou um liberal, se eu quero empregar na minha empresa você ganhando R$ 2 mil por mês e a Dona Maria ganhando R$ 1,5 mil, se a Dona Maria não quiser ganhar isso, que procure outro emprego! Se você acha que também não tá ganhando, que procure outro emprego. Eu que estou pagando, o patrão sou eu.
Ouça a fala do deputado:
4.
Como Bolsonaro está sendo questionado nesta campanha eleitoral sobre as declarações acima, na quarta-feira (29) o próprio candidato tratou de citar ZH em evento da Revista Voto, em Porto Alegre. Ao comentar sobre a entrevista da época, ele disse que o problema era a manchete. O candidato está errado, pois o título não falava em direito das mulheres, e sim sobre a briga dele com Maria do Rosário. Nos trechos em que a reportagem trata dos direitos das mulheres, está reproduzido exatamente o que o candidato falou, inclusive com áudio.
5.
Em razão de suas declarações sobre Maria do Rosário, o parlamentar acabou condenado a indenizar e a pedir desculpas públicas à deputada. A entrevista a ZH foi usada como peça de acusação contra o deputado. Bolsonaro está recorrendo da condenação.