Depois de oito trimestres marcados por pequenas altas ou desempenho nulo, a economia brasileira voltou ao vermelho no início de 2019. Entre janeiro e março, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,2%, em relação aos três últimos meses do ano passado. O recuo confirma a fraqueza do indicador na largada de 2019, o que preocupa analistas. O dado foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta quinta-feira (30).
Diante das dificuldades em diferentes setores, projeções de crescimento do PIB ao final deste ano têm sido revistas para baixo. O indicador, conhecido como a soma dos serviços e bens produzidos pelo país, encontra-se no nível do primeiro semestre de 2012, conforme o IBGE. Ou seja, ainda não recuperou o patamar anterior à última recessão, que ocorreu entre 2015 e 2016.
— A situação do país está bem complicada em termos fiscais. Há muitas incertezas na economia. Não existe algo que vai solucionar os problemas rapidamente. O caminho da retomada depende da aprovação de reformas como a da Previdência — observa a pesquisadora Juliana Trece, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Entre janeiro e março deste ano, a maior queda entre os setores, pelo lado da oferta, foi a da indústria, que recuou 0,7% ante igual período de 2018. A redução nas fábricas foi puxada pelo segmento extrativo, com declínio de 6,3%, afetado pelo rompimento de barragem da Vale em Brumadinho (MG). Dentro do setor, a construção e a indústria de transformação também tiveram resultados negativos, de 2% e 0,5%, respectivamente.
Além da indústria, a agropecuária também ficou no vermelho no primeiro trimestre: a baixa colhida no campo foi de 0,5%. No sentido inverso, o setor de serviços, que responde por cerca de 70% do PIB, teve leve alta de 0,2%.
Pelo lado da demanda, a principal queda foi a dos investimentos de empresas para aumento de produção, medidos pelo indicador de formação bruta de capital fixo (FBCF). A baixa nos aportes chegou a 1,7%, a segunda consecutiva, sinalizando que ainda há ociosidade dentro das fábricas.
O IBGE ainda informou que o consumo das famílias foi positivo no primeiro trimestre, com alta de 0,3%. O consumo do governo subiu 0,4%. Com a turbulência no cenário externo, as exportações caíram 1,9%. Enquanto isso, as importações avançaram 0,5%.
A decepção com o desempenho da economia só não ficou ainda maior porque o IBGE manteve inalterado o resultado do PIB do quarto trimestre de 2018. Assim, afastou o risco de volta da recessão técnica neste momento.
Ao divulgar o desempenho trimestral, o instituto costuma revisar, para cima ou para baixo, os números dos três meses anteriores. Como o PIB cresceu apenas 0,1% entre outubro e dezembro do ano passado, havia possibilidade de o dado ser atualizado e tornar-se negativo.
A recessão técnica é um jargão usado para descrever dois trimestres consecutivos de queda na economia. Serve de espécie de aquecimento para a recessão, que é caracterizada pelo declínio expressivo da atividade em diversos setores durante período maior. A última registrada no Brasil, entre 2015 e 2016, concentrou oito trimestres consecutivos de baixa.
Em valores correntes, o PIB somou R$ 1,7 trilhão entre janeiro e março. Frente a igual período de 2018, a economia subiu 0,5%. No acumulado dos últimos quatro trimestres, a alta é de 0,9%.