O recuo de 0,2% da economia nacional entre janeiro e março, o primeiro desde o final de 2016, embute uma combinação de fatores negativos. Diante do fraco resultado, analistas demonstram preocupação com o cenário para os próximos meses.
Pelo lado da oferta, a indústria caiu 0,7%. A redução nas fábricas foi puxada pelo segmento extrativo, com declínio de 6,3%, afetado pelo rompimento de barragem da Vale em Brumadinho (MG). Dentro do setor, a construção e a indústria de transformação também tiveram desempenhos negativos, de 2% e 0,5%, respectivamente.
— A queda do PIB no primeiro trimestre já era esperada por analistas porque setores como a indústria mostram estar bem abalados. Cair 2%, como a construção caiu, por exemplo, é muita coisa — comenta a pesquisadora Juliana Trece, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Outro dado que ilustra a fragilidade do PIB é a redução de 1,7% nos investimentos de empresas para aumento de capacidade de produção. Os aportes são medidos pelo indicador de formação bruta de capital fixo (FBCF), que teve a segunda baixa consecutiva.
A queda reflete incertezas de empresários com o desempenho da economia neste ano. Sem clareza do cenário e com capacidade ociosa dentro das fábricas, donos de empresas tendem a segurar os aportes.
— O que mais chama atenção é a nova baixa nos investimentos, a despeito do otimismo do empresariado entre o final de 2018 e o início deste ano. A fraqueza desse indicador deve forçar novas revisões para baixo no PIB ao fim de 2019 — pontua o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.
Setor que colheu bons resultados nos últimos anos, a agropecuária caiu 0,5%. O desempenho no vermelho é consequência de condições climáticas adversas na largada do ano, segundo o economista-chefe do Sistema da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz.
— O Rio Grande do Sul foi um dos principais atingidos por essa situação. A safra brasileira no começo do ano foi menor por questões climáticas. No Estado, houve enchentes no início de 2019, que causaram perdas, principalmente, em lavouras de arroz — sublinha Luz.
O desempenho do PIB no primeiro trimestre também indica que as exportações não ficaram imunes a turbulências no cenário externo, como a crise na Argentina, terceiro principal destino das vendas internacionais feitas pelo Brasil. Segundo o IBGE, os embarques ao Exterior caíram 1,9%.
— A crise na Argentina teve impacto, sim. Além disso, as exportações de minério de ferro foram abaladas pela queda na indústria extrativa — aponta a economista Amanda Tavares, técnica do IBGE.