Após a queda de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, especialistas avaliam que o cenário para a economia brasileira seguirá recheado de incertezas nos próximos meses. Diante do frágil desempenho entre janeiro e março, analistas revisam para baixo projeções de crescimento do PIB ao final de 2019.
A frustração nas expectativas pode ser dimensionada, em parte, pelos dados do relatório Focus, do Banco Central (BC), que apresenta a visão do mercado financeiro. Em dezembro de 2018, analistas do setor projetavam alta de 2,55% para o PIB ao final de 2019. Na edição mais recente do boletim, divulgada na segunda-feira (27), a estimativa caiu pela 13ª vez consecutiva, a 1,23%.
Para a pesquisadora Juliana Trece, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), a eventual aprovação neste ano da reforma da Previdência poderia elevar a confiança de investidores, mas não garantiria por si só o avanço mais robusto do PIB. Segundo Juliana, os efeitos da reforma, como a atração de aportes privados ao país, seriam sentidos com maior vigor a partir de 2020.
— Com a reforma, a economia pode até crescer um pouco mais do que o Focus projeta para este ano. Nada muito além disso — frisa a pesquisadora.
Embora não seja a hipótese mais provável, a volta da recessão técnica não está descartada entre abril e junho, diz Juliana. Esse jargão é usado por economistas para descrever dois trimestres seguidos de baixa no PIB. Como o indicador caiu no primeiro, nova redução no segundo levaria o país à recessão técnica.
— Dados preliminares de abril indicam que o mês não foi muito bom. O desempenho da economia dependerá bastante de maio. Como a base de comparação com o primeiro trimestre é baixa, poderá haver crescimento no segundo. Mas o risco de recessão não pode ser descartado — observa a pesquisadora.
Após a confirmação da queda do PIB entre janeiro e março, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta quinta-feira (30) que o governo estuda liberar saques de contas ativas do FGTS. Ou seja, de quem está trabalhando.
Conforme o ministro, a medida é uma das ações em análise para estimular a economia, podendo entrar em vigor após a aprovação da reforma da Previdência. Na largada de 2019, o avanço do projeto de mudanças no sistema de aposentadorias foi abalado por atritos entre o Palácio do Planalto e o Congresso.
— A economia segue em compasso de espera. A reforma da Previdência, sozinha, não resolve todos os problemas. Liberar os saques do FGTS pode ajudar. Medidas do Banco Central para estimular a competição bancária e a redução de taxas de juro também são importantes — analisa o economista-chefe da gestora Geral Asset, Denilson Alencastro.