Embora um risco tenha sido descartado – não ocorreu revisão no frágil 0,1% de crescimento no último trimestre do ano passado, portanto escapamos de uma volta à recessão técnica – o recuo de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre vai intensificar o debate sobre a doença que afeta a economia. Entre os diagnósticos em debate, há muitos palavrões – tanto do ponto de vista semântico quanto no que representam para cada brasileiro.
Os primeiros sinais do segundo trimestre não são auspiciosos, disse na véspera da divulgação do PIB pelo IBGE o economista-chefe do BNP Paribas, José Carlos Faria. Na quarta-feira (29), estimou avanço de meros 0,8% para o ano e risco de estagnação no segundo trimestre. Como é estreita a diferença entre ficar no mesmo lugar e dar um passo atrás, como ocorreu de janeiro a março, a volta a recessão técnica (definida por dois trimestre seguidos de variação negativa) também está no horizonte. São os dois primeiros palavrões que frequentam os diagnósticos dos economistas. Mas há piores: na semana passada, Afonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central (BC) e muito respeitado entre seus pares, indicou que a economia do Brasil pode ter entrado em depressão.
Depressão econômica é uma situação que não tem definição precisa, portanto é difícil de caracterizar. A primeira reação da coluna ao ler sobre o diagnóstico de Pastore foi balançar a cabeça em negativa. Mas olhemos algumas das características desse período: longos período sem crescimento, falência de muitas empresas e desemprego profundo e duradouro. Basta lembrar de alguma das enormes filas formadas em busca de um raro posto de trabalho para evocar as cenas da Grande Depressão dos anos 1930 nos Estados Unidos. Não são apenas essas, mas fazem ao menos pensar duas vezes antes de rejeitar a tese sem refletir. E o mais complexo, sobre a situação brasileira, é que os meios tradicionais de curar uma depressão econômica não estão disponíveis no Brasil de 2019, como observou Faria:
– O que vemos agora é que não existe estímulo em nenhum componente do PIB. Até existe alguma recuperação do consumo, mas o desemprego elevado impede crescimento maior.
O governo federal não tem espaço para investir, e a maioria dos estaduais, também não.
A longa recessão que tivemos dificultam a recuperação do investimento. As exportações mostram crescimento nos últimos 12 meses, mas o cenário global de crescimento mais lento e acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China projeta desaceleração – avaliou Faria em teleconferência.
A esperança para o Brasil é a aprovação das reformas estruturais, mas se agora não se discute mais "se" a da Previdência vai passar, mas com que resultado na redução de despesas, também se sabe que só esse projeto não basta para recuperar a saúde do paciente. Sem o comprometimento exclusivo de todos, do presidente da República a cada um de nós, o caminho da recuperação pode ser mais longo do que o necessário.