Diante da falta de algum instrumento que possa estimular a economia brasileira, a temporada de revisões sobre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 é reforçada por grandes instituições internacionais. O economista-chefe do BNP Paribas,
José Carlos Faria, estimou nesta quarta-feira (29) avanço de meros 0,8% para o ano, e reforçou a percepção de que o primeiro trimestre terá variação negativa, com risco de estagnação no segundo trimestre. E os primeiros sinais do segundo, como as dificuldades da indústria, sugerem risco de estagnação, acrescentou.
– O que vemos agora é que não existe estímulo em nenhum componente do PIB. Até existe alguma recuperação do consumo, mas o desemprego elevado impede um crescimento maior. O governo federal não tem espaço para investir, e a maioria dos estaduais, também não. A longa recessão que tivemos dificultam a recuperação do investimento. As exportações mostram crescimento nos últimos 12 meses, mas o cenário global de crescimento mais lento e acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China projeta desaceleração – avaliou Faria em teleconferência.
O analista também apontou o "barulho político" em Brasília como motivo do aumento da incerteza entre os economistas. Na avaliação do BNP Paribas, a reforma da Previdência será aprovada até agosto na Câmara dos Deputados e até outubro no Senado, mas renderá economia entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões em 10 anos, muito abaixo do que ambiciona o Planalto.
– Há uma grande incerteza em relação ao cenário fiscal. O problema exige reformas, e a da Previdência é a mais importante. Mas essa incerteza sobre o tamanho da economia (gerada pela reforma) acaba tendo efeito negativo sobre decisões de investimento. Se pode esperar, não há incentivo para começar a investir mais rapidamente. Isso explica muito do que está acontecendo no Brasil neste momento. As privatizações e os investimentos em infraestrutura são processos lentos. O novo governo tem privatizações e concessões como bastante importantes na agenda, mas são processos que tomam bastante tempo. Não haverá grande efeito positivo vindo dos investimentos. Essa falta de estímulos explica a frustração com recuperação da economia.
Ao responder pergunta da coluna, Faria avaliou que o governo pode fazer pouco para reverter o pessimismo que toma conta da economia, porque não tem recursos públicos para investir. Uma das escassas opções seria uma nova liberação dos saques do FGTS, mas pondera que esse tipo de medida tem efeito de curto prazo, enquanto o Brasil precisa de mudanças estruturais, das reformas. E embora considere que a redução da taxa básica de juro também não terá poder para dar 0 gás que falta à economia, projeta três cortes de 0,25 ponto até o final do ano, a partir de setembro.
– Hoje, a taxa de juro não é obstáculo ao crescimento, embora tenhamos corte de juro no cenário dada a fraqueza da economia. Não é a redução da taxa de juro que vai fazer a economia destravar. A reforma da Previdência não é condição suficiente, mas é necessária. É preciso avançar na reforma tributária, fonte de muitas ineficiências na economia, e 0tentar acelerar o processo de privatizações e concessões. Há grande demanda por investimentos em infraestrutura, setor bastante deficiente, mas não temos espaço para estímulo fiscal.