A drástica mudança de humor no mercado financeiro, entre a lua de mel iniciada na reta final da eleição e o temor de volta à recessão – reforçado a partir da semana passada – está relacionada a nova percepção sobre o governo Bolsonaro. Há cerca de um mês, o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, vem dizendo que o Banco Central (BC) terá de reduzir o juro básico ainda este ano para evitar estagnação ou até volta da recessão. Na semana passada, passou a ser acompanhado por pesos pesados, como o Bank of America, entre outros.
Há risco real de volta à recessão?
O mais provável é que a economia cresça 1%, ou pouco menos, neste ano. E mesmo com a reforma da Previdência, o Brasil pode ter crescimento baixo também em 2020. A ideia de que basta aprovar a reforma para crescer mais nos próximos anos não é mais vista como uma certeza. As incertezas políticas prejudicam as perspectivas de crescimento para os anos seguintes. O que mais preocupa, agora, não é a redução das expectativas para 2019. Está dado que vamos crescer 1% ou menos. O mais complicado é ver como serão comprometidas as expectativas para 2020 ou 2021. E esse é um processo ainda no início. Deve haver revisões adicionais para os anos seguintes, mesmo aprovando a reforma da Previdência.
O que mudou?
Houve dois movimentos. O primeiro é que, embora nunca tenha se acreditado que a economia com a reforma chegaria a R$ 1,2 trilhão, como sinalizou o governo, havia expectativa de cerca de R$ 1 trilhão. Hoje, avalia-se que seja mais próxima de R$ 600 bilhões, metade da poupança que o governo previa. Isso é decorrência dos sinais de desarticulação. A outra questão é que a falta de comprometimento do Executivo de formar uma base sólida no Congresso significa que outras batalhas, nos próximos anos, serão muito difícil de ser levadas a cabo. Se na mais importante o governo não consegue formar uma maioria votar, imagine nas que são menos cruciais, mas necessárias para destravar o crescimento, como reforma tributária e outras.
Se o capital político deste governo quase evaporou nos primeiros cinco meses, provavelmente nos próximos anos vai ser impossível aprovar qualquer coisa relevante.
Com que tipo de expectativa está o mercado?
Se falta capacidade gerencial para formar maioria, capacidade de negociação, capacidade de liderar um movimento, de fato, por essa mudanças, já nos seis primeiros meses de governo, como serão os próximos anos? O capital político qualquer governante é maior no início do mandato.
Se o capital político deste governo quase evaporou nos primeiros cinco meses, provavelmente nos próximos anos vai ser impossível aprovar qualquer coisa relevante. A expectativa de aprovar futuras reformas se esvai. Então, uma reforma da Previdência mais tímida e uma perda muito rápida de capital político fazem com que o mercado comece a ver que taxa de crescimento futura será bastante medíocre.
Daí sua defesa de redução no juro?
Existem condições objetivas para cortar o juro agora: as expectativas de inflação estão ancoradas até 2021, os juros internacionais reais (taxa nominal, descontada a inflação) ainda são negativos, ou zero. Isso permite que o Brail reduza o juro. A taxa real é alta, comparada ao resto do mundo. A situação política é uma coincidência. Como a reforma da Previdência vai demorar a dar tração para a economia, enquanto não dá resultado, podemos contar com a política monetária.
Adianta, se o corte não chega à ponta?
Esse novo Banco Central tem a tarefa de fazer com que redução no juro básico chegue ao tomador de empréstimo. Estamos falando de redução de spread (diferença entre a taxa paga pelos bancos ao captar dinheiro de clientes e a cobrança no momento de conceder financiamento). Ao mesmo tempo, o BC terá de trabalhar para criar mecanismos para isso.