Depois da adjetivação pesada da semana anterior, que passou por “carga tóxica do governo” e “Brasil ingovernável”, esta começou com sinais de trégua entre Congresso e Planalto. Embora não tenham sido suficientes para tranquilizar o mercado de câmbio, ajudaram a bolsa a retomar o ânimo.
O dólar praticamente ignorou a primeira parcela de intervenção do Banco Central (BC), de US$ 1,25 bilhão, e a moeda fechou quase estável (variação de 0,07%) em relação a sexta-feira, a R$ 4,105. Ainda há esperança de alguma moderação na cotação, porque o BC reservou mais duas doses iguais amanhã e depois. O que complica o cenário é o fato de que, ontem, houve trégua na valorização do dólar frente à maioria das outras moedas.
Uma das teses, no mercado, é a de que, assim que o BC “piscou” – anunciou intervenção, na sexta-feira passada – abriu a temporada de caça ao teto. Isso significa que especuladores do mercado cambial estão dispostos a forçar a instituição a atuar definindo um limite máximo de flutuação para o real. Esses é um duelo habitual entre o BC e os operadores do mercado cambial, que depende do sangue frio das duas partes.
Se no câmbio houve pressão e especulação, a bolsa teve um pequeno alívio. A significativa alta de 2,17% levou o Ibovespa de volta ao patamar acima de 90 mil pontos, perdido na sexta-feira. Além da percepção de que a queda havia sido forte demais, o tom mais conciliador adotado ontem ajudou. O porta-voz do Planalto, Otávio Rêgo Barros, jogou água fria na escalada verbal. Disse que o presidente será “parceiro do processo de avaliação e discussão”. O relator, Samuel Moreira (PSDB-SP), ajudou a soprar, considerando “importante” que o governo esteja aberto a aceitar mudanças no projeto.
Embora também tenha tentado dar sua contribuição para pacificar o tema, afirmando que “não há briga entre poderes”, o presidente Jair Bolsonaro escolheu uma forma dúbia de manifestar abertura. Fez quase uma provocação, ao afirmar:
– Se a Câmara e o Senado têm um projeto melhor que o nosso, que coloquem em votação.
Especialistas em Previdência ponderam que um substitutivo da Câmara com as contribuições dos parlamentares sempre esteve nas previsões sobre o avanço do tema no Legislativo. Argumentam que não há clima para recomeçar o debate do zero.