A economia brasileira teve a segunda alta anual consecutiva, mas ficou distante de causar empolgação. Em 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) subiu 1,1%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta quinta-feira (28). Apesar do resultado positivo, o PIB está no mesmo patamar de 2012. Ou seja, ainda não recuperou totalmente as perdas provocadas pela recessão.
Em valores correntes, o indicador fechou 2018 em R$ 6,8 trilhões. Em termos percentuais, o avanço na soma de bens e serviços no país ficou no mesmo nível do verificado em 2017. No ano retrasado, depois de dois tombos consecutivos durante a crise, a taxa de crescimento também foi de 1,1%, conforme dados revisados pelo IBGE.
Uma das marcas deixadas pelo desempenho de 2018 é a frustração de expectativas. Ao final de 2017, analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central (BC) estimavam que a economia poderia crescer 2,7% no ano passado.
– A retomada é leve depois de período muito ruim. A economia estava com as molas tão comprimidas que bastou tirar as mãos de cima para haver uma subida – compara o economista Alexandre Espírito Santo, da plataforma de Investimentos Órama.
A greve dos caminhoneiros, que levou a economia à lona em maio, e as incertezas eleitorais, que represaram investimentos e contratações de empresas, são apontadas como parte dos fatores que murcharam o resultado de 2018. Economistas ainda relatam que turbulências no cenário externo e o congelamento de reformas como a da Previdência, durante o governo de Michel Temer, também travaram o PIB no ano passado.
– Um resultado positivo é sempre bem-vindo, mas ficou muito abaixo do esperado – pondera a pesquisadora Juliana Cunha, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Pelo lado da oferta, a maior alta verificada em 2018 foi a do setor de serviços, que chegou a 1,3%. A elevação nesse segmento, que responde por cerca de 70% do PIB, foi a segunda consecutiva.
Na indústria, o avanço alcançou 0,6%, o primeiro depois de quatro baixas. Gerente de análise econômica do Sicredi, Pedro Ramos explica que o desempenho do setor ainda é abalado por dificuldades da construção civil, que teve redução de 2,5% em 2018, a quinta em sequência.
– Houve baixa na confiança de empresários da indústria após a greve dos caminhoneiros. Também não se pode ignorar que fatores externos, como a crise na Argentina, atingiram o setor – cita Ramos.
Na agropecuária, o avanço no ano passado foi de 0,1%. O crescimento inferior em relação aos setores de serviços e indústria está relacionado à base mais forte de comparação, dizem analistas. Em 2017, por causa da safra robusta, o campo havia colhido alta de 12,5%.
– Dada a base de comparação na agropecuária, o crescimento de 0,1% é até razoável – afirma Juliana.
Pelo lado da demanda, os investimentos de empresas para aumento de produção, medidos pelo indicador de formação bruta de capital fixo (FBCF), subiram 4,1% depois de quatro baixas anuais seguidas. O consumo das famílias avançou 1,9%, a segunda alta consecutiva do indicador.
Segundo o IBGE, os gastos do governo ficaram nulos. Enquanto isso, as exportações subiram 4,1%, e as importações, 8,5%.
PIB patina no quarto trimestre
O IBGE também divulgou que a economia apresentou relativa estabilidade no quarto trimestre do ano passado, com leve avanço de 0,1%, em relação aos três meses imediatamente anteriores. Nessa base de comparação, tanto a agropecuária quanto serviços avançaram 0,2%. A indústria ficou no vermelho, com baixa de 0,3%.
– A alta de 0,1% frustra expectativas – define Ramos.