A construção civil ainda sofre os efeitos da crise econômica e apresenta números negativos, mas encontra alento na percepção de que a pior fase das dificuldades ficou para trás. Em Porto Alegre, a aposta de empresários em lançamentos imobiliários cresceu no primeiro semestre, o que sinaliza maior confiança na retomada dos negócios.
De janeiro a junho, a Capital registrou 1.488 novas unidades (dados englobam desde apartamentos e casas até salas comerciais), alta de 59% em relação a igual período do ano passado, aponta o Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS). No sentido contrário, as vendas seguiram no vermelho. De janeiro a junho, 1.366 unidades foram negociadas na Capital, retração de 20,1% frente ao mesmo intervalo de 2017.
— O setor passa por uma crise prolongada. Havia expectativa de que a recuperação fosse mais rápida. Apesar disso, as empresas observam que o pior já passou. A reação mais consistente deverá ocorrer a partir de 2019 – projeta o presidente do Sinduscon-RS, Aquiles Dal Molin Júnior.
O empresário frisa que a retomada nas vendas em todo o Estado ainda esbarra no muro de incertezas políticas, acentuadas com a corrida eleitoral, e no alto nível de desemprego, que atinge 12,7 milhões de brasileiros. Conforme Dal Molin Júnior, estímulos ao setor tendem a surgir com a melhora na concessão de crédito. O dirigente lembra que, em julho, o governo federal elevou para R$ 1,5 milhão o valor máximo de imóveis que poderão ser financiados com recursos do FGTS. A medida passará a valer em janeiro de 2019.
— O ciclo de mercado na construção é diferente do registrado em outros segmentos industriais. Os lançamentos feitos há pouco serão entregues em 2020, 2021 – afirma o diretor da GC Engenharia, Paulo Vanzetto Garcia, ex-presidente do Sinduscon-RS.
O setor passa por uma crise prolongada. Havia expectativa de que a recuperação fosse mais rápida. A reação mais consistente deverá ocorrer a partir de 2019
AQUILES DAL MOLIN JÚNIOR
Presidente do Sinduscon-RS
— O processo de retomada demora, mas o setor está saindo do túnel em que esteve nos últimos anos — completa.
Em agosto, a construção civil empregava 123,7 mil trabalhadores no Rio Grande do Sul, mostra estatística elaborada pelo Sinduscon-RS, a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Com isso, o setor acumula alta de 2,9% no número de funcionários em 2018 – em dezembro do ano passado, eram 120,1 mil. Apesar do avanço, a marca ainda está distante do nível anterior à recessão. Em 2013, o setor gerava 156,7 mil postos de trabalho no Estado.
— O cenário de admissões ainda está fraco, abaixo do que era esperado. A reforma trabalhista não gerou empregos, trouxe precarização. A expectativa é de que a situação possa melhorar no ano que vem — diz o diretor de formação sindical do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Porto Alegre, Jean Pereira Santana.
Considerada um dos pilares que sustentam novos investimentos, a confiança dos empresários do setor, medida por índice da Fundação Getulio Vargas (FGV), cresceu no país na passagem de agosto para setembro. Em escala de zero a 200 pontos, o indicador subiu 0,9 ponto, para 80,3 pontos. Mesmo com o avanço, ainda segue abaixo da barreira média de cem.
— A percepção é de que o pior da crise ficou para trás. Há uma melhora, ou despiora, em ritmo muito lento. Os sinais positivos demoram para apresentar reflexos em indicadores como o PIB (Produto Interno Bruto) — sublinha a pesquisadora Ana Castelo, coordenadora de projetos da construção civil do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
Preferência por nichos de mercado
Empresários mencionam que, apesar das incertezas das eleições presidenciais, a construção civil tem condições de erguer retomada mais consistente a partir de 2019. Segundo representantes do setor na capital gaúcha, a recessão fez incorporadoras concentrarem esforços em nichos de mercado com maiores chances de crescimento, o que poderá dar fôlego aos negócios nos próximos meses.
— Existe busca por imóveis especiais, e não apenas convencionais. São aquelas unidades localizadas em áreas diferenciadas da cidade. Isso já vem dando certo — ressalta o diretor da GC Engenharia, Paulo Vanzetto Garcia.
Para o sócio-fundador da incorporadora Wikihaus, Eduardo Pricladnitzki, a recessão forçou o mercado da construção civil a “amadurecer”. Isso significa que, diante do encolhimento dos negócios, empresários passaram a valorizar mais os detalhes de cada empreendimento, diz o administrador.
— As empresas entenderam que precisam inovar, e não fazer movimentos de manada, como no boom de 2008 a 2013. Na época, o mercado cresceu de maneira muito acelerada. Hoje, as companhias estão se reinventando, fugindo do padrão de dois e três dormitórios — argumenta.
Na geração de empregos, o ritmo do setor dependerá do resultado das eleições, destaca o diretor de formação sindical do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Porto Alegre, Jean Pereira Santana.
— Ainda há obras previstas para a Copa do Mundo de 2014 que não foram terminadas. Há expectativa mais otimista para contratações em 2019, mas é preciso que o setor seja destravado e o país volte a andar, com maior qualificação para os trabalhadores – salienta Santana.