O Brasil enfrenta uma crise histórica de dengue desde que começou a contabilizar casos e óbitos pela doença. Até esta segunda-feira (15), foram 1.385 mortes e 3.289.639 casos no país, de acordo com o painel de arboviroses do Ministério da Saúde.
O Rio Grande do Sul, por sua vez, tem 70 óbitos e 63 mil casos confirmados. Além disso, o Estado é um dos locais com maior mortalidade em decorrência da dengue.
A situação nos primeiros meses do ano já é pior do que a soma de casos de 2023 no RS. O dado também é recorde quanto ao número de mortes no Estado. Os altos números e a velocidade de aumento da doença fizeram o governo do RS decretar situação de emergência.
Causas para o atual cenário
Parte do cenário se explica a partir do fenômeno El Niño e pelas mudanças climáticas. O biólogo e pesquisador do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Joel Ellwanger, chama o cenário de “tempestade perfeita” para a proliferação do mosquito transmissor, o Aedes aegypti.
A combinação entre desequilíbrio ambiental e chuva ampliaram a proliferação do inseto. O desmatamento, por sua vez, é capaz de impactar as ondas e ilhas de calor.
O Aedes aegypti se reproduz em temperaturas entre 18°C e 33°C , sendo que a faixa ideal para manter a transmissão do vírus é entre 21°C e 30°C. O perfil da epidemia atual faz com que a doença deixe de ser considerada sazonal.
No final de março, o secretário da Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, projetou que os meses de abril e maio ainda sejam de enfrentamento de uma situação mais crítica da doença. Para ele, seriam necessários cinco dias de temperaturas mais baixas para ajudar a exterminar o mosquito.
Tipos de dengue
O vírus, transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti possui quatro sorotipos, denominados Denv-1, Denv-2, Denv-3 e Denv-4, diferenciados por variações genéticas. Todos estão em circulação em território nacional no momento.
Segundo o chefe do Serviço de Infectologia e Controle de Infecção do Hospital Moinhos de Vento, Alexandre Zavascki, o principal fator de risco para ter uma dengue grave é o paciente ter tido uma dengue anterior por um tipo diferente.
— Por exemplo, sem alguém teve o sorotipo 1 da doença e, no outro ano, contrai o 2, 3 ou 4, tem mais chance ter uma dengue hemorrágica, que pode matar — alerta.
Sintomas
Para que se caracterize dengue, é necessário compreender que há um conjunto de sintomas comuns, muitas vezes confundidos com outras doenças. Entre os sinais clássicos estão febre alta (39°C a 40°C), com duração de dois a sete dias, dor atrás dos olhos, dor de cabeça, dor no corpo, dor nas articulações, mal-estar geral, náusea, vômito, diarreia e manchas vermelhas na pele, com ou sem coceira.
Nos postos de saúde e unidades básicas, é comum existir confusão com doenças respiratórias, como a covid-19. Confira no infográfico as diferenças:
Para identificar a gravidade de um caso de dengue, GZH criou um simulador. Basta marcar os sintomas presentes e verificar a classificação de risco para a doença.
Vacina
A vacina contra a dengue, que está disponível apenas para crianças e adolescentes de até 14 anos não chegou ao RS. Segundo o Ministério da Saúde, foram compradas 5,2 milhões de vacinas neste ano. Em 2025, serão mais 9 milhões.
Os municípios foram escolhidos para receber os primeiros lotes das vacinas por estarem localizados em áreas de com alta incidência da dengue tipo 2 (Sorotipo 2), que provoca infecção mais grave da doença, deixando o Estado de fora dos critérios estabelecidos.
O laboratório Takeda se comprometeu a ampliar a produção das doses contra a dengue por meio de uma parceria com o laboratório indiano Biological E. Apesar da busca por incremento da produção, o especialista Maurício Lacerda Nogueira, que atua no desenvolvimento de um imunizante no Instituto Butantan, entende que a epidemia atual não será resolvida com uma vacina agora. Isso porque, segundo o pesquisador, haveria demora para imunizar grandes grupos e porque há outros problemas para controlar a transmissão.
Nas farmácias e clínicas, que iniciaram a vacinação antes mesmo do Ministério da Saúde, há escassez do imunizante. Algumas chegaram a armazenar doses para a segunda aplicação, outras ainda aguardavam posição da empresa Takeda em fevereiro.
Testes disponíveis
Existem diferentes tipos de exames que podem ser utilizados para detectar a doença – e três deles podem ser feitos diretamente em farmácias. Os testes que pesquisam a presença do vírus da dengue e devem ser realizados do primeiro ao quinto dia de doença são:
- PCR viral: pesquisa do material genético da dengue - oferecido em laboratórios
- Antígeno NS1: pesquisa de uma proteína produzida pelo vírus da dengue na fase aguda da infecção - oferecido em laboratórios ou em testes rápidos em farmácias
- Isolamento viral: uma técnica laboratorial de cultivo do vírus a partir de uma amostra clínica
A partir do sétimo dia, podem ser coletados os exames que pesquisam anticorpos contra a dengue no sangue do paciente, segundo Riche. Eles são:
- Teste rápido de anticorpos: pesquisam qualquer anticorpo contra a dengue, incluindo IgG e IgM - oferecido em farmácias
- Testes laboratoriais de IgM e IgG: pesquisa e diferenciação de anticorpos - oferecido em laboratórios
Diante do aumento da demanda, municípios como Porto Alegre têm enfrentado demora para divulgar resultados dos exames.
Repelentes e seu uso
Já que a vacinação ainda não é capaz de alcançar a maior parte da população, autoridades em saúde continuam orientando a prevenção como solução mais eficaz para minimizar a crise atual. Alguns públicos são estratégicos nessa política de conscientização, como as gestantes.
Entre as ações indicadas, estão o uso de repelentes, que tiveram uma procura bastante expressiva nos últimos meses. A recomendação é de uso diário, principalmente em locais com exposição intensa ao mosquito. Para quem usa outros itens, a orientação da dermatologista da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Mariele Bevilaqua, é de usar primeiro hidratante, em seguida, o protetor solar e, finalmente, o repelente.
Três substâncias foram liberadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para repelir o mosquito da dengue. São elas: Icaridina, IR3535 e DEET. O que muda de um repelente para o outro é a concentração de cada componente e a forma como ele é vendido, que pode ser em gel, creme ou spray. Essas substâncias são capazes de modificar o cheiro da pele humana, o que acaba atrapalhando o inseto na identificação do odor do corpo para conseguir picar. A recomendação é mais específica para crianças, levando em conta a concentração e a duração de cada substância.
Também fazem parte das políticas de prevenção, aplicação de pulverização de inseticidas e vistorias para averiguar acúmulo de água em potes, tampas e pneus.
Reconhecendo o mosquito
Diante dos alertas, é comum que haja confusão entre o pernilongo comum e o mosquito causador da dengue, zika e chikungunya. Características como o tamanho, as cores e o período em que normalmente ocorre a picada ajudam a identificar a espécie. Confira o infográfico com as distinções entre os insetos: