Combinação de sintomas, imprecisão sobre o local da contaminação e dias seguidos de prostração. Parecem sinais de covid-19, mas são depoimentos de pacientes que contraíram dengue. A doença transmitida pelo Aedes aegypti já contaminou mais de 460 mil brasileiros em 2024 — cerca de 11 mil são do RS, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Relatos ouvidos por GZH dão conta de uma sensação mais desconfortável do que a provocada pelo coronavírus.
O último 4 de fevereiro era para ser um domingo de folga e descanso para o videomaker Adelar Martins, 37 anos. Mas a febre de 38,9 graus começou cedo e seguiu por aproximadamente seis horas.
— Foi um verdadeiro inferno. Tive cansaço e uma espécie de dor dentro dos ossos, sabe? — Martins tenta descrever.
Encaminhado até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), foi diagnosticado com dengue. Se sentindo fraco, Adelar foi aconselhado a tomar, diariamente, dois litros de água. Somente naquele dia, foram seis.
— Me avisaram que quando baixasse a febre, seria a hora da verdade. E que se eu tivesse sangramento ou dor de barriga, era pra voltar. Praticamente "gabaritei" todos os sintomas da dengue. A enfermeira teve até dificuldade para coletar meu sangue. Achei que morreria — revela.
Quando “melhorou”, ele foi liberado, mas ainda apresentava fraqueza, dor que considerava insuportável atrás dos olhos e diarreia. Mas o que o preocupava era o sangue que escorria pelo nariz. Oficialmente, não houve diagnóstico de dengue grave (antes chamada de hemorrágica), mas ouvia comentários que remetiam a este nível da doença.
— Você sente que tem algo no nariz, põe o dedo e ele sai vermelho. Fui normalizar acho que duas semanas e meia depois da primeira febre — lembra Adelar, que garante ter sido pior do que as duas vezes que contraiu covid-19.
Apenas ele na família ficou doente, mas os cuidados não param. Repelente se tornou item obrigatório no cotidiano, em casa e no trabalho. A mesma atenção à prevenção ocorre para o filho e a esposa, que está grávida.
Infecção em família
Há situações, no entanto, em que a doença não se restringiu a apenas uma pessoa da família. Companheiros na vida, a encarregada administrativa Adriane Amaral, 48 anos, e o aposentado Dilson Amaral, 50, tiveram dengue praticamente na mesma época. Ele, no entanto, apresentou sintomas mais fortes.
— Eu tive dor no corpo e mal-estar, como se fosse uma gripe. Mas, ele ficou muito ruim: dores nas pernas, enjoos, não conseguia comer. Ficou fraco e, então, no segundo ou terceiro dia, levei ao Hospital Divina Providência — relata Adriane.
Após exames, a dengue foi constatada. Precisou cerca de um mês para a total recuperação. Desde então, o repelente se tornou artigo constante na lista de compras da família.
— A gente se já cuidava muito, mas agora mais ainda. Ele disse que a dengue foi 10 vezes pior que a covid que ele teve — assegura Adriane.
Foi um verdadeiro inferno. Tive cansaço e uma espécie de dor dentro dos ossos.
ADELAR MARTINS
videomaker que contraiu dengue
Proprietária de uma escola infantil em Cachoeirinha, na região metropolitana, Luana Oliveira, 43, também apresentou diversos sintomas e viu a filha, a madrasta e cunhado sofrerem o mesmo.
— No meu caso, era muita dor na cabeça, no fundo dos olhos e no corpo. Parecia que eu não ia suportar o peso do corpo, caminhar era um sacrifício — conta.
Depois de 10 dias, período que incluiu um inchaço que impossibilitava Luana de calçar sapatos e vermelhidão causada por coceiras, o quadro melhorou.
— Creio que peguei na casa do meu pai, perto do Arroio Passinhos, onde tem muito mosquito — arrisca.
Por conta da escola, a preocupação “era enlouquecedora”, segundo Luana, para que a situação não acontecesse com os alunos. A aplicação de inseticida no local, pedido que os pais passassem repelente nas crianças e uma limitação de horário para permanecer no prédio foram algumas das medidas tomadas.
Tratamento adequado
De acordo com a infectologista Rafaela Mafaciolli, todos os sintomas citados na reportagem são típicos da dengue, que também pode ser assintomática em algumas pessoas. Pacientes podem apresentar tanto quadros leves quanto agudos.
— Ao apresentar os sintomas é importante procurar atendimento e serviço de saúde, para ter o diagnóstico e receber os cuidados, tratamento e orientações adequados — diz a especialista.
Segundo o Ministério da Saúde, o protocolo oficial para dengue prevê que o médico identifique os sintomas a partir de uma pesquisa com o próprio paciente. Em seguida, o profissional pode ou não solicitar exames laboratoriais.
O paciente não pode tomar ácido acetilsalicílico – anti-inflamatório aspirina, utilizado para combate à febre. Na maioria dos casos, há uma cura espontânea depois de 10 dias.
Recomendações em caso de dengue:
- Repousar enquanto durar a febre
- Manter-se hidratado (ingestão de líquidos)
- Administração de paracetamol ou dipirona em caso de dor ou febre
Em caso de persistência dos sintomas, o paciente deve voltar ao serviço de saúde, conforme o Ministério da Saúde.