O noroeste gaúcho registra grande incidência de casos e mortes de dengue nos primeiros meses deste ano. Dos oito óbitos registrados no Rio Grande do Sul em 2024, seis estão na região. O mais recente ocorreu em Frederico Westphalen na última segunda-feira (26). Mas é Tenente Portela — município com pouco mais de 14 mil habitantes — onde há o maior número de mortes: três no total. Já em Cruz Alta e Santa Rosa há um óbito confirmado em cada município.
Segundo dados do painel da dengue no RS, até esta quinta-feira (29), Tenente Portela confirmou 1.394 casos. Santa Rosa, com 77 mil moradores, tem 729 confirmações da doença, e em Cruz Alta (59 mil habitantes) são 26 testados positivo para a doença.
Conforme a Secretaria Estadual de Saúde, historicamente, o Noroeste apresenta a maior incidência para casos de dengue e outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Essa característica se explica pelas condições de ambiente favoráveis pra proliferação do mosquito.
— Ele (Aedes) se instalou, se adaptou inicialmente melhor nesta região, então foi onde começou. E não só para a dengue, mas para as outras arboviroses — reforça Juliane Fleck, epidemiologista da Feevale.
Esse ambiente favorável é constituído pela presença de muitas áreas verdes, com acúmulo de água e calor. Como desde o ano passado há atuação do fenômeno El Niño, com altas temperaturas e enchentes, os fatores se intensificaram.
Em 2021 e 2022, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) realizou uma pesquisa para verificar se as populações de mosquitos Aedes do Noroeste se diferenciavam das de outras áreas do Estado. O resultado obtido é que não há diferenças entre essas populações, ou seja, os mosquitos do Noroeste passam tanta dengue quanto os de outras regiões do Estado.
No entanto, o contexto ambiental favorável fez com que o ciclo de reprodução do mosquito se reduzisse, aumentando a quantidade, conforme explica Alessandra Morassutti, bióloga e professora da Universidade de Passo Fundo (UPF):
— Quanto mais quente fica, é mais fácil para o mosquito acelerar o seu metabolismo. Aumenta a sua capacidade reprodutiva em uma semana. Então, na verdade, o que demorava 15 dias, quando é verão, calor e tem bastante água disponível, passa para ser uma semana, oito dias. Isso é um fator que proporciona que o mosquito esteja mais disponível no ambiente. E é por isso que a transmissão pode ocorrer com mais facilidade.
Não basta ter mosquitos
O médico infectologista e professor da PUC-RS Diego Falci aponta o fato de que não basta haver uma quantia elevada de mosquitos. Há também uma população suscetível a contrair a doença na região, em lugares em que há mais pessoas que nunca tiveram contato com o vírus ou que moram em localidades mais distantes dos grandes centros, com menos informações de prevenção.
Além disso, Falci apontou que determinadas características locais podem interferir nos casos. Ele cita, por exemplo, lugares mais pacatos, onde os moradores costumam permanecer muito tempo na frente de casa ao amanhecer ou aos finais de tarde.
— Nesses horários, o mosquito vai procurar sangue e, se a pessoa está exposta, a gente pode deduzir que existe um risco maior. De fato, é importante que as pessoas estejam conscientes disso e que usem medidas de proteção simples, como repelente. Em um local que existe infestação de mosquito, talvez, não seja interessante ficar ali sentado tomando chimarrão, por exemplo. Não precisa abandonar o hábito, mas usar medidas de proteção e procurar um local que não esteja infestado — argumenta o professor.
Portanto, o avanço da dengue no Noroeste ocorre devido a uma soma de fatores que, juntos, contribuem para um cenário favorável à proliferação do mosquito, ao contágio e ao desenvolvimento da doença.
— Todas essas questões ajudam a ter o vírus aqui. Ele circulou praticamente o ano inteiro passado também. A gente não teve aquela interrupção com grandes períodos sem circulação viral. Tudo isso propicia com que a gente tenha agora um maior número de casos — resume Fleck.
Os especialistas ressaltam, ainda, que as ações de combate à doença são as mesmas sempre, não importa a região. Medidas sanitárias e preventivas, além do atendimento clínico ágil à população.
Vídeo: combate à dengue em Santo Ângelo
Os sintomas de alarme da dengue são:
- Dor abdominal intensa e contínua
- Vômitos persistentes ou recorrentes
- Sangramento de mucosas (nariz/gengivas)
- Sangramento menstrual intenso
- Tonturas ou sensação de desmaio
- Sonolência excessiva ou irritabilidade
- Diminuição da produção de urina
- Pele pálida, fria e úmida
- Dificuldade respiratória
- Dor no peito ou dificuldade para respirar
Orientação da SES para a população gaúcha:
- Tomar água para se manter hidratada
- Revisar interna e externamente as áreas da residência, ao menos uma vez por semana, colocando fora objetos que acumulem água
- Procurar um serviço de saúde diante das manifestações dos primeiros sintomas compatíveis com dengue e na ocorrência de sinais de alarme
- Usar repelente para sua maior proteção