— Eu acho que essa é uma outra marca bem forte do nosso governo, que é o diálogo entre nós dois (Paula e Adiló), nós com as equipes e nós com a cidade.
É assim que a vice-prefeita Paula Ioris, em fim de mandato, define uma parte do seu legado no cargo ao lado do prefeito Adiló Didomenico no comando da cidade desde 2021, mandato que se encerra em 31 de dezembro. Com pautas voltadas para a comunidade, Paula participou de diversos projetos como o Capacita Caxias e Escola do Amanhã, além da criação do Conselho de Governança Pública (CGov), que trata da condução e implantação de estratégias para a administração pública. Em entrevista ao Pioneiro, Paula celebrou os anos como vice e destacou quais são os planos para o futuro — mesmo ressaltando que nada está definido.
Paula entrou para a vida política após o assassinato de seu filho, em 2012, e foi a segunda vereadora mais votada em 2016, com 5.823 votos. Em 2020, foi convidada para compor como vice na chapa de Adiló. Por ser psicóloga, com pós-graduação em Gestão Empresarial, foi uma importante peça no atual mandato para encabeçar projetos como o Escritório de Gestão de Dados e da Cidade Inteligente. Em seu gabinete, foi possível notar a organização de todas as metas do governo em um painel, reforçando o papel como fiscal do plano de governança.
Com a finalização do mandato, Paula diz que "gostou de ser vice-prefeita de Caxias" e que pensa em voltar a trabalhar na área de desenvolvimento de pessoas, mas sem deixar a política de lado.
Confira a entrevista completa
Pioneiro: Como avalias a sua experiência como vice-prefeita?
Paula Ioris: Eu gostei muito de ser vice-prefeita de Caxias. A gente tem uma cidade com muita força, muito rica e com muitos desafios. Eu sempre torno público isso, que eu, de fato, só conheci a cidade agora, estando como vice-prefeita, apesar de ter nascido e sempre vivido em Caxias do Sul. Eu vinha da área da indústria, passei pela saúde, consultoria em diversos ramos de atividade e na região, e eu nunca tinha estado tão próxima de tantas coisas da nossa cidade. Desde o início, eu e o prefeito (Adiló) combinamos de falarmos sobre crenças, sobre coisas que nós acreditávamos, e penso que conseguimos realizar uma gestão com muito diálogo, com muita proximidade, com muitas parcerias, que justamente está aí a riqueza. Nós somos uma metrópole aqui na Serra gaúcha, com muitas empresas, e na medida em que a gente integra os diversos segmentos, as entidades, a indústria, a tal das "quatro hélices", como se diz na academia, a gente tem a oportunidade de fazer muitas coisas.
Quais seriam os destaques da sua gestão?
O meu principal papel como vice-prefeita foi o acompanhamento do plano de governo. Então, nós já instituímos, via decreto, um Escritório de Dados. A gente precisa muito, em âmbito de gestão pública, trabalhar baseado em dados. Penso que nós conseguimos avançar bastante nisso. Implantamos a governança municipal, uma coisa importante para o município, para ter mais visão de planejamento estratégico de curto, médio e longo prazos. A própria questão de ter esse projeto para as cidades inteligentes, que é uma carência nossa, onde a gente pode racionalizar, fazer melhor uso de todos os recursos, de inteligência, de pessoas, do que é operacional e o que a máquina pode fazer. E nós pegamos a cidade bastante analógica. Hoje, a gente implantou o Proa (Processos Administrativos e-Gov), que é a gestão de documentos toda via digital.
Os princípios eram implantar mais conceitos de gestão, fazer muita integração entre as áreas na prefeitura, e a gente conseguiu fazer isso muito bem
PAULA IORIS
Vice-prefeita de 2021/2024
Caxias ainda tem uma caminhada nesse sentido, mas eu penso que o que nós iniciamos ficou muito bom. Os princípios eram implantar mais conceitos de gestão, fazer muita integração entre as áreas na prefeitura, e a gente conseguiu fazer isso muito bem, especialmente a dimensão social. Temos reuniões todos os meses onde a gente bota no centro o idoso, o jovem, a criança, e olha de forma intersetorial para projetos. E também uma integração muito boa com as entidades. Basta vermos políticas públicas como o Capacita Caxias, que recebeu premiação estadual e concorreu a nacional como cidade inclusiva. O próprio Crédito Caxias, todo sendo feito com parcerias. Agora, iniciamos o Capacita 50+ também. Então, vejo que a minha contribuição foi nesse sentido, de gestão, governança, integração entre áreas.
Nesses anos a senhora assumiu a cadeira do Adiló nove vezes. Como foi essa experiência?
Obviamente, o papel do prefeito é discricionário, é preservado, mas eu sempre fui uma vice muito ativa. A gente sempre dividiu muitas agendas. Quando o pessoal vem e me pergunta "vai ser asfaltada tal rua?", eu não sei. O prefeito sabe na ponta da língua, todas as questões de infraestrutura. Eu fico sempre mais ligada às pautas sociais, culturais, de inovação, governança, e o prefeito também. Mas a gente acostumou sempre a se organizar e se ajudar. A gente foi fazendo o trabalho juntos, mas eu sempre deixando ele a par de tudo. E ter assumido nove vezes foi muito bom, foi tranquilo. O Adiló sempre me disse, "a decisão que tu tomar, está tomada". Mas eu não tomaria nenhuma decisão mais impactante sem falar com ele, porque é o nosso modelo de trabalho. Eu brinco que eu quero um quadro na parede, porque nove vezes é um recorde.
Eu gostei muito de ser vice-prefeita de Caxias. A gente tem uma cidade com muita força, muito rica e com muitos desafios.
PAULA IORIS
Vice-prefeita de 2021/2024
Então a sua relação com o Adiló sempre foi de muita conversa?
A gente sempre diz isso, inclusive publicamente. Nós não somos iguais e não pensamos igual em tudo. Mas a gente sempre conversou, se tem uma decisão a ser tomada, uma escolha a ser feita, a gente conversa, troca as impressões de forma franca. Se tem alguma diferença, se resolve. Porque não há como pensar igual em tudo. Isso não acontece em nada. E nem é bom. É tão bom o contraponto. Eu acho que essa é uma outra marca bem forte do nosso governo, que é o diálogo entre nós dois, nós com as equipes e nós com a cidade.
E agora, terminando o mandato, o que a senhora planeja fazer na questão da política? Pretende se manter ativa? Quais são os planos para o futuro?
Eu pretendo tirar umas férias, mas eu tenho uma carreira. Quase 40 anos de trabalho, o menor tempo foi na política. Então, é bom isso. Poder saber que tem o que fazer. Eu gosto de pensar em voltar para fazer desenvolvimento de pessoas, que eu fiz isso ao longo de muito tempo. Eu tenho isso como um projeto. Porque eu aprendi muito. Essa trajetória no público veio somar ao restante da minha trajetória. Então, acho que trabalhar mulheres em espaços de poder é um projeto que penso, mas, ao mesmo tempo, eu penso que... Sabe, às vezes me dá uma nostalgia com tudo o que eu aprendi, não continuar. Acho que não seria legal. Um compromisso social, sabe? Como eu te falei aqui, como exemplo, o foco em projetos para jovens. A gente fez muita coisa. Tenho tido conversas com lideranças do partido (PSDB), com o olhar regional. Então, acho que essa visão de ter uma gestão baseada em dados, como a gente imprimiu em Caxias, eu penso que poderia ampliar isso, mas nada definitivo. São ideias que já saíram da minha cabeça, muito brevemente no papel, mas eu ainda não tenho nada completamente confirmado.
A ideia é basicamente trabalhar essas questões mais sociais, mas mais nos bastidores?
Se for para permanecer na política, não seria voluntariado. Claro que eu sempre participei de várias entidades, mas respondendo a sua pergunta em relação a continuar na política. Então, a minha resposta é: acho que tenho que pensar nisso em razão de tudo o que aprendi neste meio. Mas onde? Eu imagino de forma regional. Pela região que somos. A nossa região tem um papel muito importante no Estado e no país. Imagino ela melhor organizada. Ter planos regionais, seja de resiliência, seja de educação, seja de mobilidade. São ideias que eu troquei com algumas pessoas do partido, já que somos governo do Estado e somos do mesmo partido, mas ainda não tem nada definido.