Os cuidados contra a infestação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, são recomendados por médicos, especialistas e poderes públicos. Entre os motivos para os altos números da doença em 2024, está o fenômeno El Niño, que potencializa episódios de chuva e forte calor no Brasil e em outras regiões do mundo. Outros insetos também são beneficiados pelas mudanças climáticas e se proliferam com mais facilidade nos meses do verão.
Segundo o médico veterinário Lucas Corrêa Born, especialista em Saúde do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), vinculado à Secretaria Estadual da Saúde (SES), vento e umidade contribuem com a taxa de reprodução de insetos.
— O deslocamento destas espécies é prejudicado quando há muito vento em determinada região. Parece simples, mas tudo acaba influenciando — pontua.
Insetos mais presentes no dia a dia urbano, moscas, pernilongos e baratas, igualmente, têm suas existências dependentes do fator climático. Born corrobora com o senso comum de que aparecem mais em períodos quentes e alerta que são animais que também transmitem doenças.
— Apesar de o mosquito Aedes aegypti ser muito mais perigoso para algumas doenças infectocontagiosas, moscas e baratas podem ser vetores mecânicos para bactérias, ou seja, contaminar alimentos que as pessoas vão consumir, causando intoxicação alimentar. Apenas não são considerados do ponto de vista epidemiológico, mas são vetores — esclarece o veterinário.
Born enfatiza outros casos em que insetos levam a doenças e que, por isso, precisam ser evitados:
— Principalmente os vetores, aqueles que transmitem doenças, têm maior atividade e maior expectativa de vida neste período (verão), o que favorece o contato das pessoas com insetos, como os mosquitos-palha, que causam a leishmaniose, e os barbeiros, que causam a doença de Chagas.
Problema causado pelo homem
Especialista na área de Entomologia (estudo dos insetos), o professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) Andreas Kohler lembra que espécies de insetos como baratas, moscas e mosquitos “borrrachudos” são mais tolerantes às ações do tempo, como temperatura e umidade.
— O lixo das cidades, principalmente restos de comida, o desmatamento e água quente, que favorece o desenvolvimento das larvas do mosquito, beneficiam estes insetos. As baratas, por exemplo, chamamos de “oportunistas”, pois se adaptam a quaisquer situações e se alimentam do que tiver disponível. São, portanto, beneficiadas pelo próprio homem — salienta.
É difícil, segundo Kohler, contabilizar o aumento deste tipo de inseto durante os meses mais quentes, mas uma comparação é possível:
— No inverno, eles precisam mais do que o dobro do tempo para se desenvolver. Se neste período, o ciclo de uma barata precisa de cinco a seis meses para se desenvolver, no verão, apenas um pouco mais de um mês — informa o professor.
Medidas de proteção individual
O veterinário Lucas Born orienta as pessoas a tomarem hábitos para afastar estes insetos nocivos do convívio. Assim como contra o mosquito da dengue, o uso dos repelentes também é indicado como medida de proteção. Além disso, barreiras físicas em alguns casos podem manter os animais indesejados afastados.
— Para evitar acesso de moscas, baratas e mosquitos em geral, é recomendada a instalação de telas em ambientes que precisam ser vedados. A população, ciente de que os insetos se proliferam nesses meses, deve intensificar medidas de proteção individual — sugere.
Insetos em extinção
O especialista em Entomologia alerta que outros tipos de insetos estão em um movimento contrário, o da redução ou até extinção, motivado, justamente, pelas mudanças climáticas. E eles têm sua relevância no meio ambiente.
— O número de insetos em geral, não só no Brasil, está em processo de declive. Entre eles, tipo de abelhas e polinizadores, como borboletas, mariposas e vespas. A redução na polinização de plantas representa menos frutas e outros produtos. Qualquer tipo de animal é importante no ecossistema. Sem a maioria dos insetos, a nossa natureza não funciona — afirma Kohler.