O mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, é uma das grandes preocupações atualmente no Estado e no país. Com o crescente número de casos confirmados da doença, é normal que as pessoas procurem formas de se proteger contra o mosquito. Na internet, é possível encontrar diversas dicas e receitas caseiras. Na vida real, porém, nem todas funcionam.
Não são poucos os tutoriais de como espantar mosquitos com plantas, frutas e, até mesmo, passando misturas desses ingredientes na pele. Boa parte dessas informações, no entanto, não está fundamentada cientificamente, e é ineficaz. Por isso, a GZH separou cinco mitos e verdades sobre prevenção e combate à dengue.
Cinco mitos e verdades sobre prevenção contra a dengue
1. Plantas com cheiro forte
Não é de hoje que o poder de repelir insetos é atribuído a plantas como citronela, lavanda, manjericão, erva-cidreira, hortelã e cânfora, entre outras. Segundo a bióloga e entomologista Flávia Montagner, membra do Conselho Regional de Biologia – 3ª Região, a lógica dessa tática é que o cheiro forte das plantas confunde o mosquito, animal bastante sensível a odores.
— As pessoas gostam de pensar que existe uma solução mágica, mas não. Elas podem dizer que desde que plantaram essas plantas no pátio, a quantidade de mosquitos diminuiu. Isso tem a ver com o fato de que essas pessoas organizaram e limparam o pátio, o que interfere na quantidade de mosquitos. Mas as plantas sozinhas não fazem nada, estão a nível de placebo — pontua.
A proteção contra a dengue deve ocorrer em diferentes frentes de combate, como evitando o acúmulo de água parada e mantendo os espaços limpos.
Portanto, limpar o pátio para garantir que não há pedaços de mato onde os mosquitos possam se abrigar e tampas, vasos ou potes nos quais é possível acumular água parada são atitudes que podem fazer a diferença.
2. Limão com cravos
Na mesma linha das plantas, a proposta do limão com cravos-da-índia é também é afastar o mosquito por causa do odor forte. As receitas da internet indicam deixar meio limão com cravos em cima em alguns pontos estratégicos da casa, para repelir os mosquitos. Flávia afirma que é verdade que os mosquitos são afastados por causa de cheiros fortes, mas que medidas como essa, ou como a plantação de espécies botânicas de cheiro forte, não são suficientes para repelir o mosquito da dengue.
— O Aedes aegypti tem grandes habilidades e é um mosquito muito bem adaptado à cidade — ela defende.
3. Sal grosso nos ralos
Outra dica bastante conhecida é a de colocar sal grosso nos ralos para matar as larvas e evitar que esses espaços virem criadouros, uma vez que são mais difíceis de serem mantidos secos ou cobertos. Segundo Flávia, essa receita tem fundamento e pode ser eficaz para prevenir a multiplicação do transmissor da dengue.
— O Aedes agypti não tem mecanismos biológicos desenvolvidos para lidar com a elevada salinidade. Suas larvas não suportariam tanto sal e morreriam desidratadas. O sal grosso, considerado barato e não tóxico, funcionaria como aquelas pedras de cloro que colocam nas piscinas — explica.
Dessa forma, o aconselhável é colocar sal grosso em qualquer lugar que pode acumular água parada, desde que pequeno. Flávia defende que a quantidade de sal precisa ser alta. Então, a dica não funcionaria em uma caixa d’água, por exemplo. A salinidade necessária para proteger o local impediria o uso da água.
4. Banho de vinagre
Banhar o corpo em vinagre, seja ele de álcool ou de maçã, por exemplo, não é considerado uma forma efetiva de se proteger contra o mosquito da dengue. Com a mesma lógica das plantas e do limão com cravos-da-índia, o cheiro forte não é o suficiente para repelir o mosquito e ser considerado uma proteção segura contra a doença.
5. Repelente caseiro
Também é mito que repelentes naturais, feitos em casa com ingredientes como vinagre, cravo-da-índia e folhas de loro, funcionem como proteção contra o mosquito da dengue. É comum que alguns repelentes comerciais tenham substâncias como óleos essenciais de citronela, por exemplo. Contudo, esses produtos contam com outros princípios ativos que são necessários para repelir o mosquito.
— Repelente é só com icaridina ou DEET (que são princípios ativos), o resto são substâncias de cheiro forte que convencem mais a pessoa do que o mosquito — ressalta a entomologista. Segundo Flávia, os repelentes passam por uma série de processos de teste de eficácia antes de serem comercializados, para garantir a segurança para a saúde do usuário e contra o mosquito.
*Produção: Yasmim Girardi