O ano mal começou e o Rio Grande do Sul já está em alerta contra a dengue. Nas quatro primeiras semanas de 2024 foram registrados 1.595 casos no Estado, número 18 vezes maior do que o contabilizado no mesmo período de 2023, quando haviam sido comunicados 88. Os dados são do Painel da Dengue da Secretaria Estadual da Saúde (SES). Nesta segunda-feira (05), também foi confirmada a primeira morte pela doença no Estado neste ano.
Com essa crescente, cidades da Serra têm apostado em alguns métodos para combater o Aedes aegypti, como, por exemplo, as ovitrampas, armadilhas que auxiliam no monitoramento nas regiões em que apresentam maiores índices de focos. Outra estratégia é o plantio da crotalária, que ajuda no combate ao mosquito ao atrair predadores do transmissor da doença.
Garibaldi é uma das cidades que está se estruturando para instalar as ovitrampas, recipientes que simulam um ambiente propício para a procriação do Aedes aegypti, também transmissor do zika vírus e da chikungunya. A armadilha consiste em um vaso de planta preenchido com água parada, que acaba atraindo o mosquito. Nelas também são inseridas palhetas de madeira que facilitam a colocação de ovos pela fêmea. As ovitrampas fazem parte da estratégia da Vigilância Ambiental em Saúde do governo do Estado de combate ao mosquito. Outros municípios da região que já adotam a prática são Bento Gonçalves, Farroupilha, Nova Petrópolis, Nova Prata, São José dos Ausentes, São Marcos e Vacaria.
Até o momento, Garibaldi registrou um caso de dengue em 2024 — que não foi contraído na cidade. No ano passado, eram quatro casos, sendo dois deles contraídos no município. De acordo com a secretária da Saúde, Clarisse Lagunaz, a expectativa é de instalar ao menos cem armadilhas.
— Em alguns municípios da Serra deu certo, e estamos apostando também. São frascos preparados, (simulados) criadouros, onde os mosquitos colocam os ovos e (os agentes de saúde) conseguem eliminar. Tivemos que fazer todo um trabalho para ver onde tínhamos os focos — detalhou a secretária sobre a motivação para a instalação das armadilhas.
O equipamento ficará no local por um período de sete dias — a palheta de madeira será substituída a cada semana. Pela quantidade de ovos, ou ausência deles, será possível identificar se há fêmeas com foco no raio de nove quarteirões da armadilha, gerando um monitoramento da região.
Conforme a secretária, 10 novos agentes foram chamados para auxiliar na instalação desses equipamentos. Cinco já estão fazendo parte da equipe e os outros devem ingressar até março. Todos passarão por um treinamento fornecido pela Vigilância Ambiental em Saúde do governo do Estado. Após, as armadilhas começarão a ser instaladas.
Além disso, Garibaldi também investe desde o ano passado na plantação de crotalária. A pasta da saúde já plantou cerca de mil mudas que, segundo a secretária Clarisse, auxiliam no combate ao Aedes aegypti. De acordo com ela, a flor de coloração amarela exala um odor que atrai as libélulas, predadoras naturais do mosquito.
As plantas são cultivadas em diferentes pontos da cidade, como barragem, praças e parques. Também há sementes disponíveis para moradores que tenham interesse em plantar as mudas em casa. Basta procurar a Coordenadoria de Endemias, que está localizada nos fundos do Posto de Saúde São Francisco.
De acordo com a chefe da Vigilância Ambiental do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Aline Campos, a estratégia do plantio da crotalária não faz parte do cronograma do governo. No entanto, segundo ela, os municípios podem aderir a outras técnicas, desde que não substituam as recomendações estaduais do combate à dengue.
— Isso não quer dizer que o Estado, ou o próprio Ministério da Saúde, se posicionem contra a integração dessas iniciativas e estratégias ao manejo que nós preconizamos. Havendo base científica, integrando e não havendo conflito com as estratégias que usamos, não há nenhum problema — orientou Aline.
Segundo o extensionista rural da Emater, Enio Ângelo Todeschini, a crotalária é uma planta que se adapta bem às condições climáticas tropicais, tem baixa tolerância ao frio e não traz risco prejuízo ao ecossistema onde é inserida. Ela tem sido utilizada para adubação verde por apresentar excelência no controle dos nematóides do solo (pequenas larvas que atacam o sistema radicular das plantas), além de contribuir na fixação biológica de nitrogênio, reduzindo a necessidade de aplicação de fertilizantes nitrogenados.
Farroupilha retirou mais de 5 mil ovos em 2023
Farroupilha foi uma das cidades que implementou no ano passado a técnica das ovitrampas por meio de projetos desenvolvidos pela SES, em parceria com o Ministério da Saúde e com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Segundo Juciele Schiavini, enfermeira da Vigilância Epidemiológica da cidade, as armadilhas seguem sendo colocadas.
— Vimos que dá resultado. Ela consegue retirar os ovos do meio ambiente. E, no ano passado, conseguimos retirar 5.557 ovos, são mosquitos que não acabaram eclodindo, deixando de existir — explicou a enfermeira.
Em 2024, já foram retirados 173 ovos do Aedes por meio das ovitrampas. Os agentes de endemia da Secretaria da Saúde também fazem visitas com orientações aos moradores de Farroupilha.
Além disso, quando há um caso confirmado na cidade, é realizado o fumacê, um tipo de controle por meio de pulverização. A técnica deve ser realizada em dois ou até três ciclos, com intervalo de cinco dias entre cada um. Nesse ano, a cidade já tem nove casos positivos, sendo que no ano passado foram dois pacientes confirmados.
Caxias do Sul tem seis casos em 2024
Atualmente, Caxias do Sul contabiliza 77 focos do Aedes, todos já identificados e eliminados, conforme a Secretaria Municipal da Saúde. Foi confirmado, até o momento, um caso de dengue autóctone (contraído na cidade) e cinco importados (em que a pessoa viajou e retornou doente). No ano passado, houve 41 casos, sendo quatro contraídos na cidade.
Conforme o diretor técnico da Vigilância Ambiental em Saúde, Rogério Poletto, há locais mapeados na cidade e que são considerados estratégicos. Nesses pontos, são feitas visitas quinzenais para que seja feita a fiscalização e monitoramento do aparecimento do mosquito. Os agentes de combate às endemias também seguem diariamente com as visitas domiciliares em busca do inseto. Outra ação realizada é o Levantamento Rápido de Índice para Aedes aegypti (Lira), que serve para verificar o nível de infestação do mosquito da dengue.
Em situações suspeitas ou confirmadas da doença, a Vigilância Ambiental realiza a aplicação de inseticida. Na semana passada, por exemplo, a ação foi realizada nos bairros Marechal Floriano, Reolon e Fátima. Também é feita a visita em residências em um raio de 150 metros para vistorias.
De acordo com Poletto, mesmo com todas as ações do município, é necessária a conscientização da população no combate ao mosquito.
— A cidade é muito grande, têm muitos imóveis, é muita área para ser coberta. Então, é necessário e fundamental a população entender, tem que ser algo naturalizado na pessoa: "vou cuidar do meu pátio, da minha limpeza" — disse o diretor técnico da Vigilância Ambiental em Saúde.
Cuidados com o mosquito
- Não deixar lixo espalhado, em local próprio ou via pública, que possa acumular água.
- Pneus em desuso ou inservíveis precisam ser mantidos em locais secos.
- Armazenamentos temporários de água não podem ficar expostos.
- Caixas d'água precisam ficar fechadas.
- Piscinas precisam ser protegidas quando não usadas.
- Potes com plantas precisam ficar secos ou preenchidos com areia e serem lavados semanalmente.
Fonte: Secretaria Municipal da Saúde de Caxias do Sul