A proteção contra a dengue — doença presente em mais de 90% dos municípios gaúchos — deve ocorrer em diferentes frentes de combate, como evitando o acúmulo de água parada e mantendo os espaços limpos. Além disso, uma das ações essenciais na prevenção individual é o uso de repelentes. Se, por um lado, a prática é trivial para adultos, não é a mesma coisa quando falamos de cuidados em relação aos pequenos.
As crianças têm uma pele mais fina e sensível, bem como uma imaturidade do sistema imune, especialmente até os seis meses. Portanto, tudo o que é aplicado é absorvido com maior avidez, explica Mariele Bevilaqua, dermatologista da Santa Casa. A médica afirma que, em crianças, a recomendação é o uso de repelente seguro somente a partir dos seis meses.
— Porém, se o contato com mosquitos for inevitável, pesando-se o risco-benefício, pode-se utilizar a partir dos dois meses, no máximo uma vez ao dia — pondera.
O que difere o uso dos adultos é a concentração e a duração de cada substância. Os principais princípios ativos de repelentes recomendados para crianças são Icaridina, IR3535 e DEET. Porém, a liberação depende da faixa etária, segundo Carmem Lucia Oliveira da Silva, pediatra e chefe do Serviço de Pediatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Recomendações por idade
Zero a três meses de idade
Não há segurança para o uso de repelentes. Nessa faixa etária, recomenda-se o uso de barreiras físicas, como roupas com mangas longas, calças que protegem até o tornozelo e meias. Além disso, deve ser usado mosquiteiro com elástico para cobrir o berço ou o carrinho, assim como telas nas portas e janelas.
De três a seis meses
Pode-se utilizar repelentes à base de Icaridina 10%. Há apresentações liberadas para essa idade, porém, nem todos os repelentes à base de Icaridina têm essa concentração. Por esse motivo, é importante ler a embalagem.
De seis meses a dois anos
Icaridina 20% - infantil; IR3535.
Maiores de dois anos
DEET; Icaridina; IR3535.
Em meio ao avanço dos casos de dengue, a recomendação é utilizar o produto diariamente, principalmente em locais com exposição intensa a insetos, defende Carmem. Além da embalagem do produto especificar a faixa etária destinada, também está descrita a quantidade de aplicações ao longo de 24 horas – definida com base na idade da criança. De modo geral, entre três e 12 meses, a frequência do uso deve ser de uma vez ao dia; entre um e 12 anos, duas vezes ao dia; e, a partir dos 12 anos, de duas a três vezes ao dia.
A pediatra acrescenta que a Icaridina também é efetiva contra moscas, "bicho-de-pé" e carrapatos – e sua potência é de uma a duas vezes maior do que a de DEET contra o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. Na prática, portanto, utiliza-se basicamente Icaridina em crianças. Além disso, hoje já há lenços umedecidos com repelentes disponíveis no mercado e nas farmácias.
Medidas ambientais para evitar a picada também são importantes, especialmente nos pequenos, ressalta Mariele. Elas incluem proteger com roupas compridas, especialmente ao dormir; utilizar repelente de tomada (a partir dos dois anos), longe da corrente de ar; colocar proteção nas janelas e fechar a casa cedo.
Dicas aos pais
- O ideal é sempre impedir que o mosquito entre em contato. Evite locais com mosquito, como parques, gramados, beiras de água parada, e previna criadouros em casa.
- Ao usar protetor solar, este deve ser aplicado primeiro (a partir dos seis meses); esperar entre 15 e 20 minutos e, só então, utilizar o repelente – este é sempre o último, o que deve ficar mais externo.
- Nunca aplique o repelente diretamente na pele da criança: adulto deve primeiro passar em suas mãos e, depois, na criança.
- Evite uso de spray na face. Prefira o repelente em loção.
- Evite a área da boca, dos olhos e de pele com lesões.
- Os repelentes também podem ser usados nas roupas, em mosquiteiros e telas.
- Não é indicado passar repelente, cobrir o local com roupa e dormir, pois isso aumenta a absorção e a toxicidade. O ideal é aplicar nas partes expostas.
Riscos do mau uso
De acordo com Carmem, os riscos de não respeitar as recomendações e utilizar o produto de maneira errada vão desde irritação na pele e mucosas, passando por eventos alérgicos, até alterações do sistema nervoso central, como tontura, dor de cabeça, tremores e convulsões.
— Mesmo passando certo, pode acontecer, se não respeitar a frequência preconizada. Às vezes, o familiar fica tão preocupado em proteger a criança que passa o repelente várias vezes ao dia, sem respeitar o intervalo — afirma.