O último debate do segundo turno se encaminhava para o fim, quinta-feira (25), na RBS TV, quando os dois candidatos começaram suas manifestações finais. Atual governador e candidato à reeleição, José Ivo Sartori (MDB) a todo instante baixava os olhos, desviando da câmera para recorrer à leitura de suas anotações. Quando a palavra foi concedida a Eduardo Leite (PSDB), o tucano fechou uma pasta que estava sobre o púlpito e avisou:
— Eu não vou ler o que a assessoria tenha preparado, até porque não preparou. Aqui estão as minhas anotações. Eu acho que esse momento é de expressão dos nossos sentimentos. Eu quero muito ser governador do Rio Grande do Sul.
O episódio ilustra com exatidão a forma como o novo governador do Rio Grande do Sul conduziu a campanha na reta final da eleição. Apresentado-se como um político jovem e dinâmico, de ideais arejadas e discurso moderado, o pelotense de 33 anos encarnou a esperança de um eleitor castigado pela mais profunda crise financeira da história gaúcha. Para se contrapor à semelhança das propostas que compartilhava com Sartori, Leite deu ênfase à necessidade de se imprimir um novo ritmo à gestão do Estado.
Salientando a todo momento a lentidão de algumas iniciativas do emedebista, sobretudo na concessão de estradas à iniciativa privada, o tucano dizia que Sartori só começou a acelerar as políticas públicas com a proximidade das eleições. Fez ainda aceno aos servidores, com a promessa de colocar os salários em dia no primeiro ano de governo; aos contribuintes, garantindo redução da alíquota de ICMS em dois anos; e aos empresários, defendendo privatizações e concessões.
Ex-prefeito de Pelotas, Leite era desconhecido da maioria dos gaúchos no início da eleição. Com uma administração bem avaliada, abriu mão de disputar uma reeleição tida como certa e foi estudar Gestão Publica nos Estados Unidos. Na volta, no segundo semestre do ano passado, pretendia concorrer a deputado federal. Foi quando começaram as pressões de líderes do PSDB que vislumbravam nele uma chance de retorno ao Palácio Piratini.
— Eu fui olhando os nomes que surgiam e não me sentia representado por nenhum projeto — afirma Leite, que só tomou uma decisão após receber da senadora Ana Amélia Lemos (PP) a garantia de que ela não iria disputar o cargo.
Na composição política, a adesão do PTB deu musculatura a um PSDB ainda nanico em muitos municípios do Interior. A chegada do PP consolidou o vigor do palanque, mas também representou um dos momentos mais tensos da campanha. O acordo, na véspera da convenção progressista, só foi fechado após uma reunião que entrou madrugada adentro e após forte resistência do então pré-candidato do partido, Luis Carlos Heinze.
— Ficamos até as 3h da manhã na sede do PP, aparando as arestas. Não foi fácil — lembra um assessor do candidato.
Firmada a aliança, o crescimento nas pesquisas ocorreu progressivamente, com Leite partindo de 8% no início do primeiro turno para a vitória na primeira etapa da eleição. O tucano mal teve tempo de comemorar a vitória. A onda bolsonarista que varrera o país elevou a pressão para que Leite declarasse voto no presidenciável. Enquanto Sartori não esperou 24 horas para anunciar apoio a Jair Bolsonaro (PSL), o pelotense relutava. Cobrado pelos aliados, acabou gravando um vídeo em que declarava voto no capitão, mas registrava várias discordâncias com sua postura.
— Foi o momento mais díficil da campanha. Ali achamos que poderíamos perder a eleição. Os partidos, os eleitores, todo mundo pressionando. Mas daí ele gravou o vídeo e tudo se acalmou — conta um dos estrategistas tucanos.
Com o segundo turno se encaminhando para o fim, Leite esteve sempre na casa dos 60% das intenções de voto. Tudo indicava uma vitória tranquila até o fechamento das urnas e a divulgação da pesquisa de boca de urna. A margem caíra para 52% a 48%, mostrando que a estratégia de Sartori de colar na candidatura de Bolsonaro havia dado resultados. Foram necessárias três contagens parciais da apuração para que Leite aparecesse em primeiro lugar, mantendo-se na frente até o final.
— O início foi com apreensão. Depois, alívio e alegria com a virada - conta um aliado.
Três fatores que determinaram a eleição:
A esperança
Jovem e com um discurso otimista, Eduardo Leite se apresentou como um político dinâmico, capaz de dar novo ritmo ao governo do Estado. Com 33 anos e uma administração bem avaliada em Pelotas, representou a esperança de um eleitor castigado pela crise das finanças gaúchas.
A aliança
À frente de um partido nanico em quase todos os municípios gaúchos, Eduardo Leite se aliou ao PTB e PP. Os trabalhistas garantiram força na Região Metropolitana, na relação com entidades sociais e líderes comunitários. Já o PP forneceu a estrutura nas pequenas cidades, com muitos vereadores e prefeitos.
O fator Bolsonaro
Ao não aderir prontamente e ainda manifestar discordância com várias posições de Jair Bolsonaro, Eduardo Leite marcou diferença em relação à adesão automática e acrítica de Sartori ao presidenciável. Com isso, conquistou o voto de muitos eleitores que haviam escolhido Miguel Rossetto (PT) e Jairo Jorge (PDT) no primeiro turno.