Principal nome do PP gaúcho, a senadora Ana Amélia Lemos provocou reviravolta no cenário político estadual ao aceitar, nesta quinta-feira (2), o convite para concorrer à vice-presidência da República na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB).
O primeiro efeito da decisão será o fim da candidatura de Luis Carlos Heinze (PP) ao Piratini. O deputado federal concordou em assumir a vaga da colega de partido e concorrer ao cargo de senador, levando o PP para a aliança em torno de Eduardo Leite (PSDB) ao governo do Estado. Durante toda tarde desta quinta-feira, articuladores do PP passaram ao telefone com Leite negociando os termos da aliança.
— O Heinze topa ir ao Senado. Agora falta acertar a coligação na eleição proporcional, a deputado estadual e federal — relata um parlamentar do PP.
Há pelo menos uma semana, os articuladores da campanha de Alckmin ventilavam a senadora como parceira ideal nas urnas. Depois de conseguir o apoio do centrão, os tucanos buscavam alguém sem manchas éticas para compensar a má fama do bloco capitaneado por figuras como Valdemar Costa Neto, do PR, e Ciro Nogueira, do PP, ambos envolvidos na Lava-Jato. Ana Amélia resistia.
— Ciro Nogueira não é bobo. Sabe que ela não joga no time dele, mas dá credibilidade e poder dentro do bloco — comenta um aliado.
No início, Ana Amélia nem sequer cogitou abdicar da campanha à reeleição. Nas últimas 24 horas, porém, a pressão se tornou insustentável.
— O telefone dela não para de tocar. É gente do país inteiro, representando o setor empresarial, o agronegócio, a área de comunicação — conta uma testemunha das negociações.
Um dos empresários que teriam atuado como interlocutores de Alckmin é Francisco Santos, presidente da Couromoda e da Feira Fórum Hospitalar, dois dos mais badalados eventos de vestuário e saúde do país. O executivo nega ter participado das discussões, mas enfatiza a importância da adesão da senadora à chapa tucana.
— A chegada de Ana Amélia torna a candidatura de Alckmin mais forte, amplia o raio de ação — projeta.
A expectativa era de que Ana Amélia pudesse anunciar a decisão ainda pela manhã, durante a convenção nacional do PP que chancelou a aliança com Alckmin. A senadora chegou após o início do evento e discursou por cerca de cinco minutos. Não citou o nome do tucano, tampouco revelou seus planos políticos. Porém, quem conversou com ela nos bastidores saiu convencido de que a decisão já estava tomada. No início da tarde, Ana Amélia reuniu deputados gaúchos em seu gabinete e comunicou que havia aceitado o convite de Alckmin.
Com o novo destino traçado pela senadora, o PP larga o DEM e o PSL no Estado, com os quais Heinze já havia se acertado para abrir seu palanque ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Agora não há mais certeza de manutenção da parceria. Além de manter a coerência com a coligação nacional, a aliança com Leite afasta o PP de Bolsonaro.
Ana Amélia nunca foi entusiasta da candidatura de Heinze e sempre manifestou contrariedade ao flerte do deputado com o capitão da reserva do Exército. Nos bastidores, trabalhou para o PP não disputar o Piratini e apoiar Leite. Acabou vencida no diretório, sobretudo pelas bases do Interior, ansiosas por uma candidatura própria. Agora, com o status de vice na chapa de Alckmin, ela pretende persuadir o partido a seguir o mesmo caminho na aliança com os tucanos.
Enquanto o grupo de Ana Amélia discutia o assunto em seu gabinete em Brasília, em Porto Alegre, Leite fazia a costura com o PTB, do vice Ranolfo Vieira Júnior. A todo instante, Leite conversava por telefone com emissários de Ana Amélia, costurando os termos do acordo. PSDB, PTB e PPS aceitam que Heinze seja candidato único ao Senado, rifando as pretensões de Mário Bernd, indicado pelo PPS a uma das vagas. Na coligação proporcional, o PTB também aceitou aliança com o PP para deputado estadual.