Após seis meses de flerte escancarado, o PTB anunciou oficialmente nesta segunda-feira (21) seu apoio à candidatura de Eduardo Leite (PSDB) ao governo do Estado. Cobiçados por praticamente todos os postulantes ao Palácio Piratini, os petebistas decidiram, por aclamação, fechar aliança com os tucanos e indicar o até então pré-candidato do partido, delegado Ranolfo Vieira Júnior, à vaga de vice-governador na chapa.
Leite compareceu à reunião da Executiva estadual do PTB na qual a coligação foi formalizada. De mãos dadas com Ranolfo, celebrou a parceria e projetou uma campanha robusta a partir da união dos dois partidos:
– O PTB reforça a viabilidade da nossa candidatura, não só pela estrutura, mas também pela bancada. Será fundamental para a governabilidade e para fazermos do primeiro ano de gestão uma época para executar projetos e fazer reformas.
O tucano estava angustiado com a demora do PTB. Há poucos dias, receoso com o assédio dos demais candidatos à legenda, esteve na iminência de dar um ultimato. Cauteloso, dizia reconhecer a necessidade de entender o “tempo do partido”, mas fez questão de frisar que, caso a indefinição se prolongasse, talvez fosse obrigado a procurar um outro vice. O recado foi rapidamente entendido por Ranolfo. Um dos principais entusiastas da aliança, o ex-chefe da Polícia Civil intensificou o esforço para vencer a última barreira interna.
Embora os dois partidos já estivessem em negociações avançadas desde o final do ano passado, havia um forte complicador: a exigência dos deputados estaduais do PTB em formar coligação também na eleição proporcional. Com cinco parlamentares eleitos para à Assembleia em 2014, a legenda projeta que, com os tucanos, poderia chegar a oito.
O PSDB, que tem quatro deputados, não aceitou a imposição. Nos cálculos do partido, a bancada poderia se reduzir à metade. A saída para o impasse foi unir forças apenas na nominata à Câmara e selar um acordo para formar um bloco para atuação conjunta na Assembleia, garantindo à presidência da Casa para o deputado Luís Augusto Lara (PTB).
Para costurar esse acordo, Ranolfo somou forças com o coordenador da bancada da sigla, Carlinhos Vargas. De longe, o presidente estadual, Luis Carlos Busato, supervisionava as conversas. Os dois partidos vinham se reunindo quase todas as semanas, discutindo sobretudo propostas para o plano de governo. Ainda não houve debate sobre distribuição de cargos, mas numa coisa Ranolfo foi inflexível. Caso vençam a eleição, as ações de segurança pública ficarão a cargo do vice-governador.
– O PTB apresenta um dos melhores nomes para o governo. Ele tem muito a contribuir, não só na segurança, mas também na gestão. Vamos ter protagonismo no governo – disse Busato.
Para contar com o quinto maior partido do Estado em filiados e com forte penetração na Região Metropolitana, Leite precisou ter paciência e sangue frio. O maior rival era José Ivo Sartori. Com as defecções dos tucanos, do PDT e do PP, o governador viu sua base ruir nos últimos meses. Nesse cenário, contar com o PTB, com atuação independente, embora alguns deputados mantivessem cargos, era fundamental.
O assédio era constante. No início de abril, Sartori convidou os principais líderes do partido para jantar no Palácio Piratini. Compareceram apenas Busato e o deputado Ronaldo Santini, acompanhados de assessores. Eles ouviram do governador o convite para compor uma frente de situação, mas educadamente sinalizaram que iriam marchar com Leite. A partir daí, deputados do PTB começaram a reclamar de boatos sobre rixas internas, creditando a origem a assessores palacianos. Na última quarta-feira, Leite almoçou com deputados do PTB, praticamente selando a união.
– Apesar da frustração com a coligação para a Assembleia, os deputados estavam incomodados com a ação do Piratini – conta uma testemunhas das conversas.