A série DNArquibancada apresenta 12 matérias, uma para cada equipe que disputa o Gauchão 2024, e a relação visceral de pessoas com os clubes do coração. Nelas, aparecerão personagens do passado e do presente. Gente muito conhecida e outros que são anônimos para muitos, mas que resumem em sua personalidade a identificação máxima com o seu time de coração. A 11ª reportagem conta a história de Anna Maria Zimmer, torcedora do Novo Hamburgo que não deixa de ir ao Estádio do Vale.
Enquanto muitos conterrâneos preferem pegar o trem para vir a Porto Alegre para os jogos da dupla Gre-Nal, Anna Maria Zimmer opta pelo ônibus, no caso dois. São necessárias duas conduções — às vezes ela recorre aos aplicativos — para ir de casa ao Estádio do Vale acompanhar as partidas do Novo Hamburgo. Como ela mesma diz, se encaminha aos jogos devagar, devagarinho, como na música de Zeca Pagodinho, mas não deixa de dar o seu apoio.
O que a proximidade uniu, a distância não separa. Na infância, Anna morava a três quadras do Santa Rosa, antiga casa anilada. A mudança do clube para o Estádio do Vale não esmoreceu a sua dedicação.
— (Torço) só pelo Novo Hamburgo. Só o Noia. Eu via os treinos. Ia nos jogos e fui ficando. Fui acompanhando. Fazia excursões. Sempre que podia, acompanhava — explica.
— Todo mundo prefere pegar o trem e ir a Porto Alegre — lamenta.
Ela gosta de estar no meio da torcida. Tem proximidade com os torcedores da Vikings Anilados, com direito a utilizar chapéu estilizado, e com a Paranoia, outra torcida do clube. O que não a impede de acompanhar os jogos com alguns amigos da velha guarda.
— A paixão pelos clubes do Interior está acabando. Os abnegados estão sempre por aqui. Muitos se conhecem desde o Santa Rosa — comenta.
Na década de 1970, casou-se com um jogador do clube. Silveira era zagueiro central do Novo Hamburgo. Mesmo posição que anos antes, Anna desempenhava em campo. Montou até um time feminino. O machismo, porém, impediu que a ideia ganhasse os gramados do Vale dos Sinos.
— Tivemos apoio do presidente da Federação (Gaúcha), mas não fomos adiante porque a CBF (então chamada de CBD) não reconhecia o futebol feminino. Eu era zagueira, bem braba. Era eu e o Figueroa — brinca Anna.
O casamento com o Noia segue insolúvel. O com Silveira se dissolveu.
— O Novo Hamburgo fez, faz e continuará fazendo parte da minha vida. Vou vir (ao estádio) até me arrastando — premedita.
Por 36 anos, seu parceiro de vida e de torcida foi o filho Digão. Com limitações, ele não se comunicava. Mesmo assim, era um grande companheiro. São oito anos sem ele. Apesar da falta que ele faz no Estádio do Vale, Anna não deixa de ir às partidas.
Perto de completar 71 anos e com a locomoção sem a mesma eficiência dos tempos em que era a Figueroa do Vale, ela não consegue mais acompanhar as excursões para ver o Anilado se aventurar fora de casa. Nada que tire seu ânimo e sua energia.
— Sou uma jovem-velha senhora. Estou sempre junto com a gurizada mais nova. É meu lazer. O que vou fazer em casa? Ficar olhando televisão? — indaga.
Anna faz jus ao primeiro verso do hino do Novo Hamburgo. “Sempre contigo estaremos”.