A série DNArquibancada apresenta 12 matérias, uma para cada equipe que disputa o Gauchão 2024, e a relação visceral de pessoas com os clubes do coração. Nelas, aparecerão personagens do passado e do presente. Gente muito conhecida e outros que são anônimos para muitos, mas que resumem em sua personalidade a identificação máxima com o seu time de coração. A quarta reportagem conta a história de Walmor Vanz, diretor de futebol do clube, filho de uma integrante da primeira torcida organizada do Ypiranga, e de Anderson de Oliveira, o Dyno, torcedor que por muitos anos trabalhou no clube.
Legendários são os soldados de uma legião. No caso do Ypiranga, As Legendárias foram mais do que defensoras da causa canarinho. Também foram pioneiras. Foram elas, e não eles, que criaram a primeira torcida organizada do clube durante o processo de fundação, em 1924. O grupo de mulheres vendia botões de rosas para ajudar financeiramente a nova equipe de futebol de Erechim.
A história tem ligação direta com os dias atuais no Colosso da Lagoa. Uma das legendárias inspirou um sentimento que não se conteve em ficar nas arquibancadas e ingressou nos gabinetes. Walmor Vanz, diretor de futebol do clube, é filho de uma das fundadoras da torcida. A paixão brotou com o fascínio criado pelas histórias relatadas pelas mãe e pela tia. São mais de seis décadas vivendo a paixão em verde e amarelo.
— Eram senhoras, senhoritas na época, bem trajadas, de vestido longo, chapéu e sombrinhas… — explica Vanz.
— Minha mãe sempre me contava essa história. Ela contava que a rivalidade que tinha com o outro clube da cidade, o Atlântico, volta e meia dava um enrosco entre elas (torcedoras dos dois clubes). Cada uma jogava uma sombrinha na cabeça da outra, nunca houve lesões corporais. E ali que começou a história também dessa torcida — complementa.
Sabe-se lá as razões, mas as Legendárias não viveram para ver os 100 anos do Ypiranga, a serem festejados em 18 de agosto. Em uma vida centenária, torcidas organizadas e desorganizadas foram e vieram. Algumas seguem embalando o time em campo, como a Banda do Colosso.
Relação de quase 50 anos com o clube
A garagem da casa de Anderson de Oliveira, o Dyno, é onde ocorrem os ensaios para não fazer feio nas arquibancadas. Hoje, ele acompanha do lado de fora, mas esteve no âmago do vestiário do clube por bons anos. Foi roupeiro, massagista, mordomo, maqueiro e gandula. Um afeto de quase 50 anos que se expressa de várias formas.
— Tem uma dedicação que temos pelo clube do coração. A gente ama vir aqui (Colosso da Lagoa). É minha segunda casa. Aqui tento me ocupar da melhor forma possível — relata.
Também foi um espaço para dor. No vestiário do Colosso, recebeu, em 2015, a informação da morte da esposa. Apesar da perda, tinha jogo importante à tarde e se dedicou ao Ypíranga da melhor forma possível. Naquele mesmo espaço, encontrou razões para continuar.
— Vivi meu luto trabalhando. Na preleção, foi lembrado pelo auxiliar técnico que eles tinham que jogar por eles e por mim devido ao amor que eu tenho pelo clube, para que, de uma forma ou de outra, me ajudar a passar pela dor da minha perda. Foi o remédio da minha vida para eu seguir em frente — explica.
Os passos de Dyno são acompanhados e começam a ser seguidos por Gabriel, seu filho.
— Estarei nos jogos, apoiarei o Ypiranga. Eu faço isso porque meu pai é inspiração para torcer pelo Ypiranga — revela o filho.
Nas palavras de Gabriel fica a certeza de que a paixão pelo Ypiranga será mais do que centenária.