Defendida por apoiadores do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, a anistia para envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 é rejeitada por 62% dos brasileiros. É o que indica uma pesquisa do Datafolha divulgada nesta quarta-feira (18).
Dos 2.002 ouvidos pela pesquisa, 33% se dizem a favor da anistia, 5% não sabem e 1% se mostraram indiferentes. Participaram brasileiros maiores de 16 anos, de 147 municípios do país.
Na pesquisa anterior do instituto, realizada em março, 63% eram contra a anistia, enquanto 33% apoiavam a medida. Indiferentes somavam 2% e outros 4% não souberam responder. Considerando a margem de erro, o levantamento divulgado nesta quarta mostra uma estagnação da opinião dos brasileiros acerca do tema.
A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com índice de confiabilidade é de 95%.
Os dados em grupos
De acordo com o Datafolha, o apoio à anistia é maior entre homens (37%), enquanto 59% do grupo são contra. As mulheres que defendem a medida somam 29%, enquanto 64% defendem uma punição aos golpistas.
Os grupos que mais defendem a anistia são os que votaram no ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022 (45%), os assalariados sem registro (38%), os empresários (37%) e os evangélicos (37%).
Por outro lado, os que mais rejeitam a extinção das punições aos golpistas são os que votaram no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 (72%), os funcionários públicos (68%), os estudantes (68%) e os desempregados (67%).
Entenda a polêmica
A anistia é um dos temas cruciais dos políticos bolsonaristas para o ano de 2025. Além de extinguir as penas dos participantes da tentativa de golpe, eles pretendem encontrar uma alternativa que permita a participação de Bolsonaro na eleição presidencial de 2026. O ex-presidente está inelegível até 2030 após julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realizado em junho.
No mês passado, Bolsonaro fez um apelo a Lula e ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, exigindo que eles aceitem uma anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro. Para o ex-presidente, a medida é essencial para "pacificar" o país.
— Agora, se tivesse uma palavra do Lula ou do Alexandre de Moraes no tocante à anistia, estava tudo resolvido. Não querem pacificar? Pacifica", afirmou o ex-presidente, que seguiu: "Eu apelo aos ministros do Supremo Tribunal Federal, eu apelo. Por favor, repensem, vamos partir para uma anistia, vai ser pacificado — disse.
O tema também é defendido pelo deputado federal Coronel Zucco (PL-RS), novo líder da oposição na Câmara dos Deputados. Nesta quarta, ao ser anunciado como sucessor de Filipe Barros (PL-RS) no posto, afirmou que este será seu foco de trabalho no próximo ano.
— Vamos trabalhar, em 2025, o que foi apalavrado em relação à anistia. E, inclusive, a oposição está apoiando a candidatura em cima do que foi apalavrado em relação à anistia — afirmou.
Na Câmara dos Deputados, uma proposta de lei que busca anistiar os golpistas e beneficiar Bolsonaro está travada. A tramitação, que já enfrentava obstáculos devido à controvérsia do tema, ficou ainda mais difícil após o indiciamento do ex-presidente no relatório final da Polícia Federal (PF).
De autoria do líder do governo Bolsonaro na Câmara, o ex-deputado Major Vitor Hugo (PL-GO), o projeto concede a anistia a todos que tenham participado de "manifestações" em qualquer lugar do território nacional do dia 30 de outubro de 2022 até o dia em que a proposta entrar em vigor. O texto compreende crimes políticos e eleitorais.
O PL buscou usar a inclusão do projeto nas pautas da Câmara como moeda de troca para apoiar o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) como o sucessor do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Porém, Motta não indicou que irá ter pressa para colocar o tema em votação, caso seja eleito.