O Brasil esteve perto de uma ruptura institucional. Isto é o que a Polícia Federal, de forma categórica, aponta em mais de 800 páginas no inquérito que investiga a trama golpista encabeçada, de acordo com a PF, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e um grupo de aliados, como políticos e integrantes das Forças Armadas.
Segundo a investigação, a preparação teve início ao longo do mandato do então presidente, com ataques constantes ao sistema eleitoral brasileiro, disseminação de notícias falsas e questionamentos sobre decisões da Justiça, sobretudo do Supremo Tribunal Federal e críticas aos ministros da Corte, sobretudo a Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso.
Na linha do tempo abaixo, veja os fatos mais importantes nos últimos dois anos
No entanto, foi na noite de 30 de outubro de 2022, às 19h57min, quando o Tribunal Superior Eleitoral declarou matematicamente a vitória de Lula, que a articulação para que o petista não assumisse ganhou força. Recluso no Alvorada, Bolsonaro demorou para se manifestar sobre o resultado. Ao longo de semanas recebeu integrantes das Forças Armadas, seu então candidato a vice na chapa, general Braga Netto, e outros apoiadores de confiança para planejar um golpe que, conforme a PF, consistia em executar o presidente eleito, seu vice e o então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, impedindo, assim a posse do novo governo, criando um cenário de caos no país e instalando um gabinete de crise, que seria comandado pelos generais Braga Netto e Augusto Heleno, ex-ministro do GSI do governo Bolsonaro.
Ao longo de dois anos, a PF vasculhou celulares, computadores, colheu depoimentos e cruzou centenas de informações até tecer toda a estrutura golpista, com seus personagens e funções. No último dia 21 de novembro, Bolsonaro e mais 35 pessoas foram indiciadas por articular um golpe. Cinco dias depois, Alexandre de Moraes, relator do caso, retirou o sigilo da investigação e enviou o inquérito para a Procuradoria-Geral da República. Cabe agora à equipe chefiada por Paulo Gonet oferecer ou não a denúncia ou solicitar mais investigações. Esta análise deve ser finalizada em fevereiro de 2025. Peça fundamental na tentativa de golpe, conforme a PF, o general Braga Netto foi preso na manhã de sábado (14), no Rio de Janeiro.