Três militares foram indiciados pela Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (11) no inquérito que investiga a formação de uma organização criminosa a fim de aplicar um golpe de Estado e manter Jair Bolsonaro no poder após a eleição de 2022, que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva. As informações são do portal g1. A investigação já indiciou 40 pessoas, entre eles o próprio ex-presidente e o ex-ministro Braga Netto.
Os indiciamentos ainda serão analisados pela Procuradoria Geral da República (PGR), que deverá apresentar em fevereiro as denúncias contra quem for considerado culpado. Reportagem publicada no g1 revelou a identidade dos novos indiciados nesta etapa da investigação são:
- Aparecido Andrade Portella — suplente da senadora Teresa Cristina (PL-MS), ex-ministra da Agricultura no governo de Bolsonaro
- Reginaldo Vieira de Abreu — coronel do Exército Brasileiro
- Rodrigo Bezerra de Azevedo — major do EB e membro do Comando de Operações Especiais (Copesp)
O mesmo inquérito já havia indiciado 37 pessoas há duas semanas, todos suspeitos de envolvimento no planejamento e elaboração do plano de golpe. Destes, 25 são militares da ativa ou reserva.
Quem são eles?
Aparecido Andrade Portella
Aparecido Andrade Portella é apontado pela Polícia Federal como responsável por angariar fundos para manifestações antidemocráticas em prol do governo Bolsonaro. Ele é militar da reserva, suplente da senadora Tereza Cristina (PL-MS) e serviu ao Exército Brasileiro ao lado de Jair Messias Bolsonaro em Nioaque, Mato Grosso do Sul, na década de 1970.
Segundo a PF, Portella era a ligação entre membros do governo bolsonarista e empresários que financiavam atos à favor do ex-presidente. O inquérito mostra que o militar visitou o Palácio da Alvorada (residência presidencial) ao menos 13 vezes em dezembro de 2022.
Em mensagens direcionada a Mauro Cid, ele enviou prints de publicações que solicitava informações sobre pessoas envolvidas nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, demonstrando receio em ter sua identidade revelada.
Nas mensagens para falar sobre o golpe de Estado, referia-se ao ato como "churrasco". Portella manteve-se calado durante o interrogatório da PF.
Rodrigo Bezerra de Azevedo
Rodrigo Bezerra de Azevedo seria chefe do grupo de operações que planejava o assassinato do ministro Alexandre de Moraes, indica a PF. Ele é major do Exército Brasileiro e integra o Comando de Operações Especiais (Copesp).
A PF chegou a Bezerra a partir da análise de dados telefônicos. O sinal de linhas registradas com o nome "Brasil" foi identificado próximo da residência do militar em Goiânia, após a data da tentativa de assassinato.
O inquérito também descobriu ligações de Bezerra para contas bancárias em nomes terceiros, com caráter fraudulento. Um dos números utilizados estava registrado em um aplicativo de celular do general Mário Fernandes.
O major admitiu aos investigadores que utilizava chips anônimos, que esta seria uma prática comum em missões do Exército. No entanto, ele alega que o celular utilizado estava em uma sala do Copesp e que o dispositivo foi descartado em 2023.
Reginaldo Vieira de Abreu
Reginaldo Vieira de Abreu seria peça-chave na disseminação de notícias falsas para colocar em dúvida a integridade do sistema eleitoral brasileiro. Coronel do exército, a investigação indica que Abreu manipulou relatório oficiais das Forças Armadas para corroborar fake news divulgadas pelo argentino Fernando Carimedo.
Em outro ato, levou um hacker à sede da PF em Brasília, para registrar denúncias e fraudes contras as urnas eletrônicas. O inquérito mostra que Abreu foi responsável por imprimir um documento, chamado Gabinete de Crise, para instruir Bolsonaro após o golpe, ação realizada dentro do Palácio da Alvorada.
Em novembro de 2022, atualizou a organização criminosa sobre deslocamentos de Gilmar Mendes, inclusive com o envio de fotos do ministro em um avião. A minuta do golpe, escrita na época, tinha como um dos objetivos prender Gilmar Mendes. Abreu também optou por ficar em silêncio frente à PF.
Outros 37 indiciados
- Ailton Gonçalves Moraes Barros, capitão reformado do Exército, teria intermediado a inserção ilegal de dados em cartões de vacinação contra a Covid-19 e teria participado de reuniões que discutiam estratégias para evitar a posse do governo eleito
- Alexandre Castilho Bitencourt da Silva, coronel do Exército, é apontado como um dos autores da "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro", documento de teor golpista que buscava incitar a alta cúpula militar a intervir no processo democrático
- Alexandre Ramagem, deputado federal, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e delegado da Polícia Federal, é investigado por supostamente ter utilizado sua posição para facilitar ações que visavam desestabilizar o governo eleito, incluindo a disseminação de informações falsas sobre o sistema eleitoral
- Almir Garnier Santos, almirante da reserva e ex-comandante da Marinha, teria colocado tropa à disposição do então presidente para um eventual movimento de ruptura democrática
- Amauri Feres Saad, advogado citado na CPI dos Atos Golpistas como "mentor intelectual" da minuta do golpe encontrada com Anderson Torres
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, suspeito de ter facilitado a ação de vândalos no 8 de Janeiro, quando era secretário de Segurança no Distrito Federal. Também foi na casa dele que foi encontrada a chamada minuta do golpe, que visava invalidar a eleição de Lula
- Anderson Lima de Moura, coronel do Exército, seria um dos autores do documento de teor golpista "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro"
- Angelo Martins Denicoli, major da reserva do Exército que chegou a ocupar cargo de direção no Ministério da Saúde na gestão Eduardo Pazuello. Segundo a PF, atuava na disseminação de fake news
- Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional e general da reserva do Exército, é suspeito de ter participado de reuniões e articulações que visavam questionar a legitimidade das eleições e promover ações contrárias à ordem democrática
- Bernardo Romão Correa Netto, coronel suspeito de integrar núcleo responsável por incitar militares a aderirem a uma estratégia de intervenção militar para impedir a posse de Lula
- Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, engenheiro contratado pelo PL para questionar a integridade das urnas eletrônicas durante as eleições de 2022. É apontado por disseminar informações falsas com o objetivo de desacreditar o sistema eleitoral brasileiro
- Carlos Giovani Delevati Pasini, coronel do Exército suspeito de ter participado da confecção da "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro"
- Cleverson Ney Magalhães, coronel da reserva do Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres, é suspeito de participar da organização dos atos do 8 de Janeiro
- Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, general da reserva e ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército, é suspeito de participar de reuniões e articulações que tinham como objetivo questionar a legitimidade das eleições e promover ações contrárias à ordem democrática
- Fabrício Moreira de Bastos, coronel do Exército, supostamente envolvido com elaboração de carta de teor golpista
- Filipe Garcia Martins, ex-assessor da Presidência da República, teria participado de reuniões que trataram da elaboração de minutas de golpe e teria papel de disseminar informações falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro
- Fernando Cerimedo, empresário argentino que fez transmissões ao vivo questionando a segurança das urnas eletrônicas durante as eleições de 2022
- Giancarlo Gomes Rodrigues, subtenente do Exército e supostamente um dos responsáveis pelo monitoramento clandestino de opositores políticos
- Guilherme Marques de Almeida, tenente-coronel e ex-comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas em Goiânia que desmaiou quando a PF bateu a sua porta. É suspeito de disseminar fake news sobre as urnas
- Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército identificado em trocas de mensagens com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, ex-deputado, ex-vereador do Rio de Janeiro e capitão da reserva do Exército, é investigado por suposta participação em articulações que visavam impedir a posse do presidente eleito, incluindo a disseminação de informações falsas sobre o sistema eleitoral e incentivo a movimentos antidemocráticos
- José Eduardo de Oliveira e Silva, padre da diocese de Osasco, teria integrado um grupo responsável pela elaboração de teses para desrespeito ao resultado eleitoral de 2022 e manutenção de Bolsonaro no poder
- Laercio Vergililo, general da reserva, é investigado por envolvimento em articulações que promoviam ações contrárias à ordem democrática. Segundo as investigações, participou de discussões que buscavam apoio das Forças Armadas para uma possível intervenção militar
- Marcelo Bormevet, policial federal suspeito de integrar o esquema de espionagem ilegal conhecido como "Abin paralela", uma estrutura clandestina que teria monitorado opositores políticos
- Marcelo Costa Câmara, coronel da reserva e ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro. As investigações apontam que ele teve papel ativo na disseminação de narrativas golpistas e participou de articulações que visavam reverter o resultado das eleições de 2022
- Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, general da reserva e homem de confiança de Bolsonaro. É suspeito de participar de um grupo que planejou as mortes de Lula, Alckmin e Moraes
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel do Exército (afastado das funções na instituição). Segundo as investigações, trocou mensagens com militares e civis sobre possíveis intervenções militares e colaborou na organização de atos antidemocráticos
- Nilton Diniz Rodrigues, general do Exército suspeito de envolvimento na elaboração de planos que buscavam impedir a posse do presidente eleito
- Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, empresário e neto do ditador do período de regime militar no Brasil João Figueiredo. É investigado por suspeita de financiar ações que desestabilizariam o processo eleitoral. As apurações indicam que ele teve papel importante no suporte logístico e na difusão de narrativas golpistas
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa, general da reserva e ex-comandante do Exército. Enviou relatório ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em que levanta suspeitas sobre a lisura das urnas
- Rafael Martins de Oliveira, tenente-coronel e integrante do grupo "kids pretos". Estaria envolvido em plano de assassinato de Lula, Alckmin e Moraes
- Ronald Ferreira de Araújo Junior, tenente-coronel do Exército, teria participado da redação de uma minuta golpista e de articulações antidemocráticas, incluindo o apoio a atos que questionavam a legitimidade do resultado eleitoral
- Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, tenente-coronel que integrava, de acordo com a PF, o "núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral"
- Tércio Arnaud Tomaz, ex-assessor de Bolsonaro e considerado um dos pilares do chamado "gabinete do ódio"
- Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido pelo qual Jair Bolsonaro e Braga Netto disputaram as eleições de 2022. Enviou à Justiça um relatório em que tentou minar a credibilidade das urnas eletrônicas
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice de Bolsonaro em 2022, general da reserva do Exército. Teria organizado reuniões em que foi planejado o golpe
- Wladimir Matos Soares, policial federal que atuou na segurança do hotel em que Lula ficou hospedado na transição. Ele teria fornecido informações às quais teve acesso pela função aos autores do plano para matar Lula, Moraes e Alckmin