A série DNArquibancada apresenta 12 matérias, uma para cada equipe que disputa o Gauchão 2024, e a relação visceral de pessoas com os clubes do coração. Nelas, aparecerão personagens do passado e do presente. Gente muito conhecida e outros que são anônimos para muitos, mas que resumem em sua personalidade a identificação máxima com o seu time de coração. A sexta reportagem conta a história de Alfredo Jaconi, homem que dedicou sua vida ao Juventude e dá nome ao estádio do clube desde 1954.
Alfredo Jaconi morreu pelo Juventude. O nome que bate no ouvido de quem acompanha os jogos em Caxias do Sul é uma homenagem a quem muitos consideram como a referência máxima dos jaconeros. Ele foi um torcedor fanático. Foi um jogador dedicado. Foi um presidente abnegado. Foi tudo no e para o Juventude.
Nascido em 1910, Jaconi veio ao mundo três anos antes da fundação do Juventude. Sua casa era na vizinhança do clube ao qual atrelaria a sua vida. A proximidade física se transformou em uma relação visceral. Jaconi não saberia viver sem o Juventude, enquanto o clube viveria vinculado ao seu vizinho, mesmo após a morte dele.
Apesar dos poucos dotes físicos e técnicos, Jaconi se esforçou a ponto de se tornar um jogador alviverde. Longe de ser um virtuoso, destacou-se pelo espírito aguerrido e dedicação máxima em campo. Liderava pelo exemplo. Dedicação mantida após aposentar as chuteiras.
— Ele inspirava os outros com a sua maneira de jogar. Um jogador que era um emblema do clube. E ele sempre dizia o seguinte: “não importa a posição que eu jogar, o que interessa é que seja escalado” — destaca o historiador e torcedor do Juventude Francisco Michielin.
Baixinho, foi apelidado de Alfredinho. Após deixar os gramados, seguiu a vida em verde e branco. Trabalhou como um massagista esmerado. Transformou-se em um auxiliar técnico eficiente. Para, depois, ser treinador. Aos 36 anos, virou presidente do Juventude.
— Ele é a história dos papos, a história da papada, dos jaconeros. Foi um sujeito que incorporou um clube de futebol na vida dele — enfatiza Michielin.
Foi um dirigente tentacular, espalhando suas atuações em diversas áreas. Entre elas, garimpava jogadores a serem contratados, além de arrumar um lugar para os novos atletas morarem. Quando os recursos eram escassos, vendia terrenos de sua propriedade para bancar a subsistência do clube.
Presidente em 1952, estava sob a tutela de Alfredinho organizar as comemorações do título citadino daquele ano. Ele foi até a Cervejaria Leornadelli encomendar bebida para os festejos. Durante a visita, a tragédia cruzou o seu caminho. Em 7 de dezembro, o jornal Nordeste, relatou com detalhes o acontecido.
"Alfredinho encontrava-se na Cervejaria Leonardelli, na sala de máquinas, aguardando uma pessoa amiga, com quem devia palestrar. Debruçado sobre o parapeito protetor, ao lado do volante do gerador, apreciava certamente as rotações da máquina quando foi colhido, presumivelmente, pela correia, que o arrastou, comprimindo-o contra o volante, esmigalhando-lhe o cérebro e causando-lhe morte instantânea".
— (A morte) comoveu toda a cidade. O féretro foi passando, e lojas fechavam as portas em tributo a ele — relata Michielin.
Mais de 70 anos se passaram, mas os ecos da dedicação e dos pensamentos de Alfredinho ainda ressoam no clube.
— Muitas vezes em reuniões do Conselho e de direções que eu participei, as pessoas diziam “se o Alfredinho estivesse vivo, faria isso”, “Se o Alfredo Jaconi estivesse conosco, daria tal conselho — conta o historiador.
Em 1953, dois anos depois da morte, a Quinta dos Pinheiros, a casa do Juventude à época, foi reformada e batizada de Alfredo Jaconi. Na década de 1970, o atual estádio do clube foi erguido, e a homenagem mantida.