Terminou nesta quarta-feira (2) o prazo para inscrições no Oscar 2025 de melhor filme internacional, a categoria mais cruel da premiação concedida pela Academia de Hollywood. Em escolha unânime, a Academia Brasileira de Cinema anunciou Ainda Estou Aqui como o representante nacional na disputa por uma indicação. Com estreia nos cinemas prevista para o dia 7 de novembro, o filme dirigido por Walter Salles tem grandes chances de aparecer, pelo menos, na lista dos 15 semifinalistas, que será divulgada em 17 de dezembro. Os cinco concorrentes serão revelados em 17 de janeiro, e a 97ª cerimônia de entrega das estatuetas douradas vai ocorrer em 2 de março.
Entre os trunfos de Ainda Estou Aqui, está a conexão com um dos grandes sucessos internacionais do nosso cinema: Central do Brasil (1998), vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim, do Globo de Ouro de longa estrangeiro e do Bafta de produção em língua não inglesa, e justamente o último competidor do país nessa categoria. Além de o diretor ser o mesmo, o elenco inclui uma participação especial de Fernanda Montenegro, que disputou o Oscar de melhor atriz em 1999, e tem como protagonista a filha dela, Fernanda Torres. Ela encarna Eunice, que, após o desaparecimento do marido, o engenheiro civil e deputado federal cassado Rubens Paiva (papel de Selton Mello), durante a ditadura militar, é obrigada a se reinventar e traçar um novo destino para si e seus cinco filhos.
O tema dos anos de chumbo esteve presente na penúltima indicação brasileira, com O que É Isso, Companheiro? (1997), e no último filme a chegar na semifinal, O Ano em que meus Pais Saíram de Férias (2007). Pesa a favor também o próprio nome de Walter Salles, cineasta com trânsito no Exterior graças a títulos como Diários de Motocicleta (2004), cinebiografia da juventude de Che Guevara. E Ainda Estou Aqui ganhou prêmio em um dos principais festivais do mundo, o de Veneza (para Murilo Hauser e Heitor Lorega, pelo roteiro baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva), tem distribuição garantida nos cinemas dos Estados Unidos — a visibilidade é importante — e aparece bem nas apostas da centenária revista Variety. A publicação cita o filme como um dos cinco prováveis candidatos na categoria internacional e acredita que Fernanda Torres pode entrar no páreo entre as atrizes.
Estou torcendo muito, mas sei que Ainda Estou Aqui tem fortes rivais. Dos cerca de 80 filmes inscritos, há pelo menos 13 que já podem ser considerados nossos "inimigos". Vale lembrar que, pelas regras da Academia de Hollywood, animações e documentários são elegíveis, e as produções precisam ter mais de 50% dos diálogos em idioma não inglês, mas não necessariamente no idioma do país que representam (em 2024, por exemplo, Zona de Interesse venceu pelo Reino Unido sendo falado em alemão). Confira:
Cloud (Japão)
De Kiyoshi Kurosawa. É o nome em inglês de Kuraudo (Nuvem), filme do cineasta de sobrenome famoso, mas que não tem parentesco com o mestre Akira Kurosawa (1910-1998). Este thriller acompanha um jovem que revende produtos online e se vê no centro de uma série de eventos misteriosos que colocam sua vida em risco. O Japão já venceu cinco vezes o Oscar, a última delas com Drive my Car (2021), e recebeu três indicações nos últimos seis anos. Sem previsão de estreia no Brasil.
Dahomey (Senegal)
De Mati Diop. Documentário da diretora de Atlantique (2019) sobre a jornada de 26 tesouros reais saqueados do Reino do Daomé. Ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim. Estreia na plataforma MUBI em data a ser informada.
Emilia Pérez (França)
De Jacques Audiard. Um dos mais renomados cineastas franceses (são dele O Profeta e Ferrugem e Osso) assina este musical sobre uma advogada em baixa (Zoe Saldana) que é contratada por um temido líder do narcotráfico mexicano (a atriz trans Karla Sofía Gascón) para forjar sua morte e ajudá-lo a ressurgir como a mulher que ele sempre sonhou ser. No Festival de Cannes, o filme recebeu o prêmio do júri e um troféu para o elenco: Saldana, Gascón, Selena Gomez e Adriana Paz. Estreia nos cinemas brasileiros prevista para 6 de fevereiro de 2025.
Flow (Letônia)
De Gints Zilbalodis. Esta animação sem diálogos — ou seja, sem a "barreira" das legendas para os estadunidenses — gira em torno de um gato que se junta a uma capivara, um lêmure, um pássaro e um cachorro depois que uma enchente destrói sua casa. Sem previsão de estreia no Brasil.
The Girl with the Needle (Dinamarca)
De Magnus von Horn. É o título em inglês de Pigen med Nålen (A Menina com a Agulha), que se passa na Copenhague de 1919, onde uma jovem trabalhadora fica desempregada e grávida. Então, ela conhece Dagmar (Trine Dyrholm, de Rainha de Copas), que dirige uma agência de adoção clandestina. O filme foi citado por 10 dos 11 críticos nas apostas do site Next Best Picture, e a Dinamarca é uma potência no Oscar, com 14 indicações (e quatro vitórias). Estreia na plataforma MUBI em data a ser informada.
Grand Tour (Portugal)
De Miguel Gomes. No Festival de Cannes, valeu o prêmio de melhor direção a Gomes, que é um dos principais nomes do cinema português contemporâneo (fez também Tabu e a trilogia As Mil e Uma Noites). Diz a sinopse: em 1917, Edward, funcionário público, foge da noiva, Molly, no dia do casamento em Rangoon (Burma, atual Myanmar). Suas viagens pela Ásia substituem o pânico pela melancolia. Estreia na plataforma MUBI em data a ser informada.
El Jockey (Argentina)
De Luis Ortega. Chamado em inglês de Kill the Jockey, é uma comédia dramática sobre um lendário jóquei cujo comportamento autodestrutivo está começando a ofuscar seu talento e ameaçar seu relacionamento com a namorada. Os argentinos tem dois triunfos, com A História Oficial (1985) e O Segredo dos seus Olhos (2009), e competiram outras seis vezes. As duas últimas foram com Relatos Selvagens (2014) e Argentina, 1985 (2022). Sem previsão de estreia no Brasil.
Kneecap (Irlanda)
De Rich Peppiat. Esta comédia autoficcional sobre um grupo de rap de Belfast aparece nas apostas da Variety, da IndieWire e de oito dos 11 críticos do site Nex Best Picture. Sem previsão de estreia no Brasil.
El Lugar de la Otra (Chile)
De Maite Alberdi. É a primeira ficção da diretora chilena que, nos últimos quatro anos, foi indicada duas vezes ao Oscar, pelos documentários O Agente Duplo (2020) e A Memória Infinita (2023). Trata-se de um drama criminal baseado na história real de María Carolina Geel, uma escritora popular que, no Chile de 1955, matou seu amante. Deve ser lançado pela Netflix ainda em outubro.
Meeting with Pol Pot (Camboja)
De Rithy Panh. É o nome em inglês de Rendez-vous avec Pol Pot. Na trama, três jornalistas franceses (incluindo a personagem da atriz Irène Jacob) vaiajm para o Camboja em 1978 após receber um convite do Khmer Vermelho para conhecer o ditador e genocida Pol Pot. Panh dirigiu A Imagem que Falta (2013), que concorreu ao Oscar de melhor documentário ao reconstituir as atrocidades cometidas em seu país entre 1975 e 1979. Sem previsão de estreia no Brasil.
The Seed of a Sacred Fig (Alemanha)
De Mohammad Rasoulof. É o nome em inglês de Daneh Anjeer Moghadas, filme do cineasta iraniano que fugiu de seu país depois de ter sido condenado a oito anos de prisão e açoitamento. Em português, significa A Semente de uma Figueira Sagrada. Segundo a sinopse, um juiz luta contra a paranoia em meio à agitação política em Teerã. Quando sua arma desaparece, ele suspeita de sua esposa e de suas filhas, impondo medidas draconianas que desgastam os laços familiares. Levou o Prêmio Especial do Júri em Cannes. Sem previsão de estreia no Brasil.
Universal Language (Canadá)
De Matthew Rankin. Esta comédia dramática transpõe o Irã para Winnipeg e entrelaça vários episódios: crianças descobrem dinheiro congelado no gelo; um guia turístico a pé leva seus visitantes entediados a atrações decepcionantes; e um homem pede demissão e embarca em uma jornada para visitar sua avó afastada. Sem previsão de estreia no Brasil.
Vermiglio (Itália)
De Maura Delpero. Recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza. O filme é ambientado em 1944, na vila alpina chamada Vermiglio. A chegada de Pietro, um desertor, transforma a família do professor local. A Itália é a maior campeã do Oscar, com 14 conquistas. Sem previsão de estreia no Brasil.
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