Quando li sobre a morte do ex-governador Alceu Collares, pensei logo em um querido amigo, meu primeiro chefe quando iniciei no jornalismo. José Barrionuevo era o principal colunista de política do Estado durante o governo Collares. Mandei um áudio para o Barrio: “O que eu poderia dizer sobre o Collares que ainda não foi dito?”. A resposta:
Brizolista de quatro costados, sempre se referindo com respeito ao chefe
“Poucos lembram que o vendedor de laranjas das esquinas de Bagé, o entregador de cartas dos Correios, foi por três anos consecutivos considerado pela crônica política de Brasília o melhor deputado federal, sempre o mais votado pelo Rio Grande do Sul, com mais de 300 mil votos num eleitorado com a metade do atual, algo inalcançável até pelas celebridades produzidas pelos veículos de comunicação. Foi sempre voz forte, com repercussão nacional, na resistência democrática. Brizolista de quatro costados, sempre se referindo com respeito ao chefe, sendo Collares o nome de maior expressão do trabalhismo no RS. Cabe referir-se a Neusa, como seu grande amor, sua grande paixão, que ele traduzia nos versos do tango Qué Tarde que Has Venido. Enfrentou até as maldições de amigos. Foi o mais apaixonado e vibrante prefeito e governador. Tenho grande admiração pela capacidade dele de aceitar a crítica, mas sem fugir de um embate acalorado, sempre bem-humorado. Bem diferente de alguns posudos que o sucederam no Palácio Piratini. Ah, no Central Park, ao lado da Neusa, ele cantou Imagine no memorial a John Lennon em Nova York. Gosto de um mantra dele: ‘O voto é tua única arma, leva teu voto na mão’.”
As palavras do Barrio me lembraram de outro episódio. Diego Casagrande, então promissor jornalista gaúcho, era um grande imitador. Em um fim de tarde, enquanto esperava por alguma notícia no Piratini, a porta do gabinete do governador se abriu. Collares chamou o Diego. Pegou o telefone e, com cara de guri maroto, pediu que telefonasse para dona Neusa como se fosse o Collares. E assim foi feito. Enquanto o Diego caprichava na imitação – e dona Neusa acreditava – o governador se torcia de tanto rir.
Nada melhor para terminar este texto sobre Collares, amizade e política: uma gargalhada. De alegria, de carinho e de saudável transgressão.